segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

"I'm alright, don't be sorry, but it's true

When I'm gone you'll realize

That I'm the best thing that happened to you"


Milles Away - Madonna

Como são e a hora certa by Tati Bernardi

Eu li este texto e curti mto... eu ia publicar só uns trechos, mas resolvi colocar tudo. É de uma escritora que eu acompanha na net faz tempo, a Tati Bernardi.
Tomei a liberdade de grifar umas partes...
***
Como são e a hora certa
"Enquanto arrumo minha mala para viajar percebo que tenho um novo mantra. Talvez algo aprendido pra trás ou uma espécie de filosofia pra frente. Ainda não sei se tem aí algo de mágico ou apenas um espírito brega de final de ano, daqueles bem otimistas e tal. As calças e vestidos estão enormes pra mim, que emagreci muito esse ano, quero ficar chateada, mas penso que as coisas são como são. Daqui a pouco engordo de novo. Na hora certa. Tenho saudades dele. Uma chaminha de reter quer voltar. Um gelinho de doer quer voltar. Mas solto, deixo, vai, apago, derreto. As coisas são como são. Além do que, uma vida pela frente vai me dizer. Na hora certa. E então meu I-pod toca Led Zeppelin no último volume e eu me acabo de gritar e sentir a vida. Quem diria. Anos e anos ouvindo todos os namorados me xingarem porque eu simplesmente odiava essa banda e agora, do nada, esse amor, essa obsessão. Descobri o cara. E meu Deus como eu amo ele. Pelado, louco, com a voz de um anjo tarado. As coisas são como são. Na hora certa. E então olho o meu “Grande Sertão” completamente riscado e eu obcecada pelas citações. E quem diria. Quem diria. Ontem mesmo, conversando com vários amigos, eles me disseram que eu não mais parecia comigo. Eu pareço eu sim, mas vou ganhando o mundo quando abro algumas brechas da minha prisão. E de brecha, vou me ganhando também. E quase vira o estômago mas sou tomada por uma fome boa que eu nem sei o nome. Talvez acreditar assim, sem medo, em algo descontrolado e de alguma forma justo, seja acreditar em Deus. Durmo em paz. Tudo na hora certa. As coisas são como são. E quando recebo suas mensagens de texto, ao longe, dizendo meio que genericamente que deseja tudo de bom e sente saudade, fico com vontade de perguntar se aquele recado chegou só pra mim ou foi disparado para toda lista do celular. Mas me recolho. Uma minúscula e ainda baixa “vozinha” me diz que além dos meus textos eu tenho também muitos charmes, graças e belezas. Além dos meus espinhos eu tenho também muitas flores. E que sim, eu posso ser amada. Porque não ter alguém agora, agarrado aos meus pés, não significa não ser um calo persistente até mesmo em solas curtidas e acostumadas com a corrida. Descubro coisas terríveis e maravilhosas a respeito do amor. As coisas são como são. E na hora certa. Como diria Milan Kundera “o amor começa por uma metáfora. Ou melhor: o amor começa no instante em que uma mulher se inscreve com uma palavra em nossa memória poética”. Como diria João Guimarães “o que é doideira às vezes pode ser a razão mais certa e de mais juízo”. Como diria ou gritaria ou uivaria Robert Plant “Com apenas uma palavra ela consegue o que veio buscar.
 E ela está comprando uma escadaria para o paraíso”. As coisas são como são. Na hora certa. E foda-se."

Sobre o reconhecimento do intolerável by Ju Pacheco

Antes do ano acabar, fiquei com vontade de publicar este texto, de uma amiga.
Pra gente não esquecer.
E pra me ajudar a lembrar do que eu tenho fome.

Quarta-feira, 22 de Outubro de 2008

Sobre o reconhecimento do intolerável
"Minha nega me pediu um vestido
Novo e colorido
Pra comemorar
Eu disse: Finja que não está descalça
Dance alguma valsa
Quero ser seu par
E ao meu amigo que não vê mais graça
Todo ano que passa
Só lhe faz chorar
Eu disse: Homem, tenha seu orgulho
Não faça barulho
O rei não vai gostar"
(Chico Buarque - Ano Novo)
Quando comecei a grafitar, bolei um stencil que dizia
"O que você tem feito de você mesmo?"
Logo em seguida me veio a idéia de um bonequinho * bem tôsco, de cabeça baixa e tristonho e ele acompanhava o tal stencil. Logo quando acabei meu painel na Lapa saquei que queria que o meu bonequino dissesse também outra coisa:

Não finja que não é intolerável

Eu queria que ele dissesse isso. Ele, na verdade, quando perguntava "O que você tem feito de você mesmo?", queria principalmente lembrar daquilo que aparece como algo intolerável na nossa vida e que fingimos não perceber, toleramos. Muitas vezes, inclusive, investimos. Muitas vezes investimos no intolerável.

O intolerável se fez muito presente na minha vida muitas vezes. Acho que é assim com todo mundo. Mas a sensação de que era preciso parar de fingir que ele não existia só se fez gritante no começo deste ano. Eu já escrevi sobre isso aqui: um trabalho, uma coordenação intolerável, abusos, rompimento de contratos, humilhações, situações violentas em todos os sentidos.

Demissão. Foi preciso assumir o intolerável e denunciá-lo.

Acho que é sobre isso que queria falar aqui, hoje. Na realidade, é óbvio, sei que estou precisando relembrar em mim que é preciso parar de fingir que não é intolerável e denunciar. Acontece que denunciar o intolerável implica romper situações, relações, assumir riscos e construir outros caminhos. Muitas e muitas vezes toleramos o intolerável pelo medo do que virá depois da denúncia, o que perderemos, a que desconhecido teríamos que nos abrir após deixar de tolerar.
O intolerável não tem a ver com algo moralmente colocado como inaceitável. Não tem a ver com regras determinadas que são rompidas. O intolerável se mostra no corpo, nos efeitos que tem sobre o corpo. Cada um sabe o que lhe é intolerável porque seu corpo lhe diz, seu corpo sente. Sente a despotência que o intolerável lhe causa, o tremor, a sensação de desfalecimento, o entristecimento. O intolerável é a simulação de um campo de concentração da vontade e da alegria: as mata aos poucos.

Um dia postei uma aula de Deleuze sobre Espinosa aqui no blog e, nela, Deleuze dizia que a alegria é inteligente e nos faz inteligentes. Outro dia estava com uma sensação muito boa e de repente me dei conta que se tratava exatamente disso: depois de tanto buscar entender o que me faz alegre, o que me potencializa e, ao entender, poder ir buscar por experiências que vão neste caminho, é muito mais fácil pra mim perceber rapidamente o que me entristece e agir no sentido de dizer "não! é intolerável!!".

* Tem fotos deste tal bonequinho e do stencil aqui no blog, lá pelo mês de Maio.

domingo, 28 de dezembro de 2008

It´s high time to say Good-Bye

The Power Of Good-Bye - Madonna

Your heart is not open so I must go
The spell has been broken?
I loved you so
Freedom comes when you learn to let go
Creation comes when you learn to say no
Walk away

You were my lesson I had to learn
I was your fortress you had to burn
Pain is a warning that something's wrong
I pray to God that it won't be long
Walk away

There's nothing left to try
There's no place left to hide
There's no greater power than the power of good-bye

Your heart is not open so I must go
The spell has been broken?I loved you so
You were my lesson I had to learn
I was your fortress

There's nothing left to try
There's no place left to hide
There's no greater power than the power of good-bye
There's nothing left to lose
There's no more heart to bruise
There's no greater power than the power of good-bye

Learn to say good-bye
I yearn to say good-bye

sábado, 27 de dezembro de 2008

Rapidinhas para 2009

Que em 2009 eu saiba dar conta de acabar com os intoleráveis de 2008 - e de todos os anos anteriores a este - e também que eu saiba identificar de "bate-e-pronto" os intoleráveis novos - pq eles sempre aparecem o tempo todo - e sobretudo, que eu me fortaleça e tenha a coragem de assumir os riscos de romper com os intoleráveis e trazer pra junto de mim este infinito q se abre, qdo vc decidi romper com aquilo que é intolerável.

F.L. - i wish

Mais sobre o Entre

"Tenho tanto sentimento
que é freqüente persuadir-me
de que sou sentimental
Mas reconheço ao medir-me
que tudo isso é pensamento
que não senti afinal

Temos, todos que vivemos,
uma vida que é vivida
e outra vida que é pensada
E a única vida que temos
é essa que dividida
entre a verdadeira e a errada
Qual porém é verdadeira
e qual errada, ninguém
nos saberá explicar
E vivemos de maneira
que a vida que a gente tem
é a que tem que pensar”

Fernando Pessoa

Obrigada!

São por momentos e pessoas como estas, q muitas coisas valem a pena

Contra o Vício - Na Torcida - http://contraovicio.blogspot.com/2008/12/na-torcida-sempre.html

Contos de Fadas? - Pelo Singelo Direito de Sonhar - http://fadasemagos.blogspot.com/2008/12/pelo-singelo-direito-de-sonhar.html


F. L. - sendo bem cuidada

2008 - Work

2008 foi um ano cheio de coisas intensas, das muito boas, das nem tão boas assim, das ruins, das bem ruins...

Começou um ano bacana para a Fê-Psicologa, com a minha antiga coordenadora me convidando para substituí-la em suas férias, e daí estas férias foram se estendendo, estendendo... e no fim, ela acabou saindo do trabalho! E eu voltei a fazer o que fazia antes - atender - e passei alguns muitos meses tentando sair deste trabalho, q tanto aprendizado me rendeu. Aprendizado do que é ser psicóloga, do que é clínica, mas sobretudo, com toda a licença para ser piégas, o que é ser pessoa, o que é sobreviver à adversidades da vida tão malucas, e como é possível, diante de tudo isto, se re-inventar, e re-SER, como ouvi daquela minha paciente, de quem foi impossível dizer adeus sem lágrimas nos olhos. Agora encerro o ano de fato fora deste trabalho - assim espero, pq hoje, agora enquanto escrevo, sei q ainda faltam 3 visitas e muitos relatorios, rs...

De fora deste, iniciando um novo, numa clínica que só se fez conhecer em função do antigo trabalho. A tal clínica aonde as pessoas fazem reunião sem sapatos. Tudo muito no começo, mas com a perspectiva de poder desenvolver um trabalho bacana, cercada de gente bacana, o que, sem dúvida, faz toda a diferença.

E a Fê-Fotógrafa também teve um ano e tanto. Dia 05/01 já tinha casamento pra fotografar! E foi depois deste evento que eu tive certeza que trabalhava com a pessoa certa, "seu olhar é muito bonito, mas vc precisa melhorar a sua luz. Vem cá, vou te mostrar o cd do curso de flash e fotometria..." Poxa, ela podia ter chamado outra pessoa, mas ela decidiu apostar. E eu me senti amparada e estimulada. Estudei, comprei equipamento novo, levei a máquina para todos os lugares inimagináveis possíveis e encerramos 2008 sócias, cheias de planos, idéias, perspectivas...!

Na verdade, o grande aprendizado - se é que eu posso chamar de aprendizado - de 2008 foi habitar o entre. Esta terceira margem do rio, em que não existe Fê-Psicóloga OU Fê-Fotógrafa. Só existe , que horas é isto, horas é aquilo e pode ser tudo isto ao mesmo tempo, neste lugar-tempo que é o entre. Não há conforto no entre, há sempre uma tensão. E talvez seja justamente esta tensão que me mova e que movimente o motum perpetuo da vida mesmo.

F.L - Iniciando as retrospectivas

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Sobre baterias, carros e amores

+ ficcão

As malas estavam na porta. Ela olhava e não sabia se o momento era para rir, ou para chorar. A cena seria cômica, se não fosse trágica, como diz o dito popular. Cômico porque ensaiaram muito este momento, mas jamais ela pensou que o estopim seria algo assim. Bobo. Bobo, mas cheio de significados, ficou pensando.

Arriou a bateria do carro dela. Ele disse que trocaria, que ela não se preocupasse. Mas nada disto aconteceu. E então eles descobriram que não tinha sido só a bateria do carro que tinha se esgotado. A deles também. Punha-se a chave no contato e o carro não ligava, por mais desejo que tinham que aquele carro, sei lá, andasse mais uns 100.000km. Nada. Nem sinal.

O mecanico disse que até que tinha durado muito. Ela pensou, que ironia, realmente, até que tem durado muito mesmo. Geralmente, o mecânico continou, este tipo de coisa pifa com 1 ano e meio de uso. "A sra. deve cuidar muito bem do seu carro." Um hiato, porque cada palavra lhe remetia a esta brincadeira sem graça da vida, de transformar em metáfora, uma situação tão nua, tão crua e tão triste. Estava na hora de trocar a bateria deles. E ela sabia. Ele sabia. Não dava mais para usar um paliativo, como foi a sugestão dele, antes dela decidir chamar um mecânico para trocar de vez a bateria. Não dava mais.

E aí as malas estavam ali, na sala.

F.L. - seria cômico...

domingo, 14 de dezembro de 2008

Eu me mantei no chuveiro

Na esteira do adeus, um texto de ficcao...

Eu me matei no chuveiro

Eu me matei no chuveiro. Era anti véspera de natal e eu me matei no chuveiro. Não foi nada premeditado, apenas aconteceu. E eu so fui me dar conta quando ele abriu a porta do banheiro e eu vi seus olhos esbugalhados olhando meus pés roxos. A boca dele aberta, um grito, e eu nada ouvi. Naquela hora me dei conta que aquele pe roxo era meu. Era eu ali, pendurada na mangueira da mini ducha. Estava morta e ele gritava, mas já não ouvia mais suas preces. Parecia absorto em sei la que pensamentos. Que cena. Eu via tudo de perto, mas de longe ao mesmo tempo. Que cena.

Aos poucos o filme foi passando pela minha cabeça. Era anti véspera de natal e eu tomava uma ducha. A dor nas costas me dilacerava, e então sentei no chão do box e fiquei ali, passando a mini ducha pelas minhas costas. Quem sabe me senti-se melhor. Não estava deprimida, não estava maníaca, nunca consultei um psiquiatra. Acabava de entrar num novo emprego, comprar uma casa nova, um cachorro, trocar meu carro. Minha família me amava. E eu tinha um marido que me amava também: me amava assim como se ama uma santa e me comia, assim, bem assim como se come um bela de uma vagabunda! E tinha filhos também, dois. Adoraveis, iam bem na escola, obdientes, lindos. Ate tinham sido convidados para o comercial de final de ano do shopping. Um luxo so. O que mais poderia querer? Pois e, não sei. Alguma coisa estava fora da ordem e tudo, de fato, não parecia nem dark nem shinning. Parecia cinza.

Eu era mediocrimente feliz.

E daí, naquela hora no chuveiro, pensava em Mrs. Dolloway e as flores que ela precisava comprar. Entao olhei meus pés, minhas unhas vermelhas estavam lindas. A foto me pareceu maravilhosa e então tive a idéia. Vi a manchete do jornal e imaginei que Tarantino filmaria esta cena. A idéia foi me parecendo formidável aquela altura. Aqueles pés pedurados, já meio roxos, somente as unhas vermelhas, meu corpo nu, meio úmido, pendurado pelo fio da mini ducha. Achei a foto divina, cheia de bossa. Não me parecia trágico, depressivo, agressivo. Não me parecia. (Mas foi, eu sei) Pensei que poderia ser mais interessante se eu fosse uma junk qualquer. Ia ficar mais bonito com os olhos borrados daquele lápis preto que so quem e realmente junk sabe usar. Aquele banheiro sujo, a roupa preta pelo chão, e a mulher de lápis borrado e cabelos loiros cheios de raiz preta ali, de unhas vermelhas nos pés, ligeiramente descascadas, ali, inerte. Ia combinar mais do que meus pés de mulher comum que caminha pela vida de sapatilhas prateadas. Sem graça. Pensei em pegar uma garrafa de vodka. Tomaria um gole e deixaria no chão. Ia compor com a cena. Mas não seria eu. Desisti.

Mas a cena dos pés não saia da minha cabeça. Aqueles pés pendurados, roxos e de unhas vermelhas. Talvez quisesse matar so meus pés. Mas não dava. Se queria os pés roxos, tinha que fazer tudo. E eu delirava pensando nos meus pés roxos e em uma foto que pegasse so os meus pés roxos de unhas vermelhas. Não dava mais pra voltar a atrás.

Ele continuava la, inerte, olhando meus pés roxos, estático ele ali. A foto era agora mais bonita. Em primeiro plano seus ombros brancos e os cabelos negros dele. E em segundo, meus pés roxos de unhas vermelhas. Na altura dos olhos dele.

Deixei ele ali e comecei a me retirar. Estava na hora e eu não gostava de despedidas, nem de chegar atrasada. Deixei ele ali, de costas. Ao sair notei que boiva o tapete, os livros, os discos-e-nada-mais. Havia deixado a mini ducha aberta e um lago se formava por todo o apartamento. Um rio. Um vale de lagrimas, bem dramático, composto por todas as mediocridades pelas quais eu deveria ter chorado, me descabelado, me tornado uma junk cheiradora de cocaína, qualquer coisa assim. Mas não, eu não tinha coragem. E mediocridade não emociona ninguém. So aprisiona. E prisão não emociona ninguém, so em programas medíocres de TV medíocre. Mas era isto, so uma possa de água do chuveiro. Este era, que piada, meu rio de lagrimas. O rio das lagrimas que eu deveria ter chorado.

F. L – the dark side off the moon

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

My Dear Piece of me

Ela me disse uma coisa ontem e me lembrei de você na hora. Insight. Ela disse "quando a gente briga, parece mais fácil encerrar uma relação". E pois é, nós duas estamos encerrando um tipo de relação - analítica, terapêutica, e por que não dizer amorosa? - e não brigamos, ou concluímos que nossa história chegou ao fim, cumpriu sua função, se esvaziou, não faz mais sentido. Apenas - e neste caso, apenas é muita coisa - não podemos mais seguir juntas por questões que nos extrapolam.
Pois bem, me fez pensar em você, como eu disse - você sabe, o mundo me faz sempre pensar em você, neste você que eu inventei, quase meu amigo imaginário, um arquétipo, sei lá. Um você absolumente meu. Absolutamente eu.
Pensei que faltou brigar pra conseguir me livrar de você. Teria sido mais fácil. E pior, não brigamos e nem, você sabe, tinhamos de fato chegado ao fim. Encerramos antes da hora... Retiscências, porque foi antes de concebermos o tempo do fim, do pon-to-fi-nal. Ia acabar. Ia mesmo, não dúvide de mim. Falo sério. Mesmo eu e meu chiclete em você dentro de mim sei que acabaria. Tudo acaba.
Mas você antecipou tudo, e daí aí que difícil tirar você de mim, deus meu - tão meu quanto você! Adoro meus atos falhos quando falho em te dizer a-deus.
Por um tempo muito eu quis te ter novamente no meu DNA, só pra comprar um tarja preta qualquer e te destroçar. Como eu me senti com a sua partida, batida em retirada - tão deselegante! Mas daí ontem, quando ela disse isto sobre brigar, eu entendi o porque ou o aonde o laço não consegue se romper dentro de mim. E você sabe que não foi por falta de tentar, porque eu fiz de um tudo pra vc brigar comigo, me odiar. Mas você nada fez. E daí, quando eu não esperava mais, você fez. Assim, sem brigas, sem nada... Partiu, afirmando ainda me querer mais que um bem querer, dizendo que mesmo assim, tinha que partir. Aí, e daí? Daí você foi e ficou, ficou, ficou... e Fica! Uma droga este tal desligamento institucional, que ligou-se em tantas outras coisas... Agora eu queria te ter novamente pra poder te dizer adeus na hora do adeus. E ponto final.

F.L - eu não queria que fosse assim

domingo, 7 de dezembro de 2008

Ainda sobre dizer Adeus

Novamente
Clara Becker
Composição: Fred Martins / Alexandre Lemos

Me disse vai embora, eu não fui
Você não dá valor ao que possui
Enquanto sofre o coração intui
E ao mesmo tempo que magoa...
O tempo... o Tempo Flui
E assim o sangue corre em cada veia
O vento brinca com os grãos de areia

Poetas cortejando a branca luz
E ao mesmo tempo que machuca
O tempo.. me passeia...

Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós..
Quem sabe soletrar " adeus "
Sem lágrimas nenhuma dor..

Os passáros atrás do sol...
As dunas de poeira...
O sol de anil no Pólo Sul,
A dinamite no Paiol...
Não há limites pra sonhar.. é quem nem sempre o amor
É tão azul...

A música preenche a sua falta...
e agora pela pauta desse amor
Se alinham pontos negros de nós dois
E arriscam uma fuga contra o tempo...
O tempo salta...

Quem sabe o que se dá em mim?
Quem sabe o que será de nós?
O tempo que antecipa o fim
Também desata os nós..
Quem sabe soletrar " adeus "
Sem lágrimas nenhuma dor...
Os passáros atrás do sol...
As dunas de poeira...
O sol de anil no Pólo Sul
A dinamite no Paiol...
Não há limites pra sonhar...
É quem nem sempre o amor...é tão azul...

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sobre psicologia e nos na garganta

A psicóloga, não estas de filme, com cara de paisagem, sombra-rosa-e-sapatilha prata, mas a psicóloga da vida real, que antes de qq coisa é pessoa... bom, ela foi atender a paciente, que também não é estas de filme e clichês, mas sim uma pessoa, antes de ser paciente. E a psicóloga foi dizer a esta paciente que, após 1 ano e 2 meses de trabalho, todas as semanas, 2hs por semana, não poderá mais seguir atendendo a paciente pelo empresa que a contratava. Não poderá não porque o trabalho se encerrou, ou porque a paciente não quer mais e a esta mandando embora - como aconteceu com outros profissionais - nem porque a psicóloga não quer mais. Não poderá porque não pode fingir que não é intolerável e pactuar com uma empresa que remunera seus profissionais tão aviltantemente, muito menos com uma coordenação que crê que o modo mais cuidadoso de se avisar sobre o falecimento de algum paciente é via mensagem de texto. Não dá mais para, paciente e psicóloga, fingirem que estão dentro de uma bolha, a parte da instituição.
E porque o término é institucional, ele é dolorido por demais. E daí, a psicóloga-mto segura-da-sua-decisão foi informar a paciente que, através da empresa, não mais poderia acompanhá-la. E no meio da frase que ensaiou tanto, tantas vezes, engasgou. Ela que, por tempos, foi pontuando a paciente sobre seus engasgos, tosses e afins, que com o tempo foi se dando conta como tais manifestações apareciam em momentos importantes, momentos de "chega, não vou aguentar isto, ou que dor esta história"... pois bem, desta vez foi ela que engasgou e não pode dizer adeus sem lágrimas nos olhos, como já diria alguma musica besta por aí.... Foi atravessada, tomada, cortada pelo seu desejo de ficar, que droga! Não queria que fosse assim!
Não queria que fosse assim. Não queria que a coordenadora-gorda-rídicula fosse assim. Não queria que a grana fosse assim e no final do mes não desse nem o salário de um estagiário de qq coisa. Não queria. E acho que naquela hora eu, a psicóloga, fui tomada por todos os meus não queria, e foi impossível não me emocionar.
No tempo de uma delicadeza-militante, base aonde procuro sempre construir meu trabalho - na foto ou na psicanálise - não haveria como ser diferente. O contato com o outro produz afetações, e não pude, nem posso, me exemir do que isto produz em mim. Se não isto seria um contra-senso entre a prática e a fala. Pensei que foi um mico me emocionar na frente da paciente - já imaginou seu analista chorando??? - ao mesmo tempo não fiquei com vergonha. Não haveria como ser diferente. Esta sou eu, eu nem vou dizer que não queria ser assim, porque é mentira. São nestes momentos que eu lembro e incorporo o tesão que eu sinto pelo o que eu faço.
E que lindo o acolhimento dela, que disse, também emocionada, não dar para digerir isto sem engasgar! Pois é, até eu engasguei.......!
F.L. - engasgada

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Sapatinhos de Cristal pelo mundo a fora

Comecei no meu trabalho novo. E meu batismo foi na reunião de equipe - sim, tem!!! Apesar de já ter ido a clínica algumas vezes, o que me fez sentir um pouco aonde estaria pisando, saí de casa um pouco tensa com quem iria encontrar, como deveria ir vestida e outros tantos bla bla blas bobocas, mas que são homericos em primeiros dias de trabalho.
A reunião de equipe acontece em uma sala de fisioterapia, com aquelas bolas grandonas, colchões... e todos, coordenadores, sócios, administrativo, terapeutas... todos devem entrar sem sapatos!!!!! Sem a menor crise, tinha gente ali até de meia com furinho, sabe? Nesta hora, pensei: um local aonde a reunião de equipe é sem sapatos só pode ser um bom lugar pra se trabalhar.
Explico da onde vem a teoria:
Eu chego em casa, todos os dias e a primeira coisa que faço é tirar os sapatos. Gosto de andar descalça desde que me conheço por gente. Então não tenho dúvidas, tiro o sapato ali na porta mesmo, e daí eles vão, gentilmente, fazendo uma pirâmide até a Lu vir e movê-los para o quarto. Quando não tiro na porta, tiro na entrada do quarto. Ou então, largo eles pela casa... no corredor, no banheiro, as vezes um longe do outro... vou deixando meu rastro, feito João e Maria, meus sapatinhos de cristal, para que o meu príncipe de todos os dias venha re-ver se cabe nos meus pés e novamente, com surpresa, re-lembre que eu sou a sua cinderela.
Na realidade, mais do que esta questão os contos de fadas, tirar os sapatos tem um significado importante pra mim. Por muito tempo queria casar descalça. Mas não era simplesmente ir descalça, era algo teatral. Queria que a porta da igreja se abrisse e então eu, cenicamente, tiraria meus sapatos e deixaria ali na porta. Não sei bem como colocar em palavras o que este ato representa pra mim, mas penso que tirar os sapatos é como dizer: é isto, esta sou eu. E tirar os sapatos na porta da igreja seria, pra mim, uma cena de entrega e de coragem: me lanço a você, a mim e nós sem saltos altos, sem amarras, com os pés verdadeiramente no chão.
No fim, acabei casando de sapato mesmo. Fiquei com vergonha de fazer esta cena, e fiquei com medo que ninguém compreendesse. Entretanto, repito ela, simbolica-ritual-e-inconscientimente, every single day quando entro em casa. Pra vc, meu amor, eu chego sempre descalça!
F.L. - sem sapatos

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

A morte e os mundos

Hoje a mãe de uma amiga morreu. E como disse outra amiga, não é recomendável que mães morram quando a gente tem só 26 anos.

Pois é, foi triste. Incrível como a vida acontece assim: um dia vc esta e no dia seguinte, puf, não esta mais.

A morte não me assusta mais tanto, mas ainda assim acho estranho esta coisa de a pessoa ir, e a vida continuar igual, porque a vida tem que continuar ué. Tem qualquer coisa de paradoxal aí, ao menos pra mim. A gente sempre prefere pensar que faz diferença no universo, né? E na realidade, penso que quando alguém morre, morre um mundo com esta pessoa. Porque cada um habita, cria, tece, caminha em um mundo. E daí o seu mundo se encontra com o meu, e juntos a gente cria um outro mundo - mas ainda mantemos o nosso individual - e daí, se um dia a gente deixa de se ver, este nosso mundo some, mas a afetação que eu produzi no seu mundo e que vc produziu no meu vai com a gente. Não tem jeito, sempre ficam marcas. E é por isto que é difícil sentir-se só de fato, porque, num certo sentido, estou sempre acompanhada das marcas que vão se produzindo no meu mundo. Na realidade, estas marcas não são estáticas, elas se movem, se resignificam, e a sua introjeção no meu mundo é antropofágica: vc deixa algo, eu engulo, metabolizo, e transformo em outra coisa que irá me compor.

F. L. - e vc, qual sua teoria?

Pra onde meu olhar me leva? E eu, vou?

Fiquei pensando sobre a exposição de fotografia que fiz no Sedes ano passado. Para onde seu olhar te leve, e vc, vai?

Pois é... e eu, para onde meu olhar me leve? E eu, tenho ido?

Meu olhar, viciado, acomodado, assustado, por tempos, e tempos, permaneceu colado nele, no corpo dele, nas mãos dele, nos olhos dele, na vida dele, nele, nele, nele, nele. Meu olhar, apaixonado, por tempos muitos, ficou somente passeando ali, e ali era a sua melhor paisagem.

Meu olhar, torpe e ingenuo, não foi vendo - ou foi desviando - que nada era como antes. Meu olhar, apaixonado por estar apaixonado, não quis ver que talvez, nem mesmo mais meu meu olhar continuava apaixonado por ele.

E meu olhar então foi minguando, porque não mais encontrava no dele o desejo de me olhar... aquele desejo que me fazia brilhar. Ai, ai, tantos desencontros destes olhares... e o único desejo que ficava era o pacto, de que não olhariamos para o fato de que nossos olhares já não eram mais os mesmos...

E cego, meu olhar foi tentanto sufucar o seu desejo de cair no mundo e ser olhado por outros olhares, que ao meu olhar desejassem. O desejassem assim, como são, voluptuosos, negros, violentos, sôfregos, intensos, urgentes, ansiosos, inseguros, vorazes, cálidos, e tímidos (sempre).

Olhares que desejassem então este olhar, um olhar de mulher-de-unhas-vermelhas. Um olhar de mulher. Desejo de ter um olhar de homem-que-deseje-mulher-de-unhas-vermelhas. E que deseje muito, e com urgência. Uma urgência daquelas que cega, e que apaga outros possíveis olhares. Uma urgência que retome ao meu olhar o seu lugar de ancoragem do desejo de um outro. Um outro possível. E mais do que isto, um outro que o meu olhar também deseje, com urgência - cálida e tímida, por mais que violenta - um olhar por quem eu também deseje ser vista. Por quem eu também deseje ser desejada.

E por hora, se me perguntarem, pra onde meu olhar me leva eu não sei dizer. Sei que vaga, por aí, querendo descobrir, não para onde ele será levado, mas para onde, de fato, ele deseja ir.

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Ja pintei minhas unhas de carmim.........

Acabou. Ao menos por hoje acabou.

Não sei se darei conta de sustentar. O fim e o desejo. O fim, o desejo e suas inumeras implicações. Não sei de fato se não recuarei, assustada, para refugio da minha felicidade medíocre. Me contento? Sou contente? O que me faz feliz?

Acontece que só por hoje acabou. E eu me sinto como se o fim estivesse posto, e não a espreita, como de fato ele esta. Em o fim posto, a sensação é estranha. Um misto, bizarro, em que me sinto ridícula, me sinto livre, me sinto linda, me sinto sozinha, pequena, pequenininha, assustada. Aonde, deus meu, isto irá me levar?

A única coisa que eu sei agora é que quero pintar minhas unhas de vermelho.

F. L. - já pintei minhas unhas de carmim

sábado, 30 de agosto de 2008

Algo de bom

Então a amiga perguntou a ela, mas o que ainda resta? Ela disse que ainda o amava. O que, insistiu? Ela foi contando que o admira, que sente desejo por ele, que gosta da companhia dele, de adormecer no seu colo, de conversar bobagens até as 6hs da manhã... Mesmo assim, com tudo isto que ela ainda ama nele, ela não sabe se ainda há salvação. Porque o problema não é ele. É ela. Ela não se ama mais com ele. Ela tem vergonha daquilo no qual ela vem se trasformando. Ela não se quer mais deste jeito. E cada vez que ela olha pra ele, pras coisas deles juntos, pras fotos - malditos registros - pros bilhetes, enfim... cada vez que ela olha pra ele, ela vê aquela pessoa-ela refletida nos olhos dele. Aquele pedaço ela que ela quer esquecer que existe. Que ela quer deletar da vida dela. Mesmo quando tudo esta bem, ela olha e sente aquele embrulho no estomago. E sente medo, não porque não se reconhece fazendo aquelas coisas. Mas porque se reconhece sim, e se assusta com a fúria das ações intempestiva. Com a raiva que é capaz de sentir. Não quer mais se assustar com ela.
Ainda resta algo de bom dele nela. O que ela não sabe é se ainda resta algo de bom dela, nela. E daí, daí tudo é muito mais complicado.

F.L. - trying to be...

A duplicidade de Vênus

A duplicidade de Vênus *

Sobre o chão de Vênus
mãos, braços e pernas
onde outrora derreteram-se
mergulhados no infinito,
solidificam-se.

Os lábios de mágico mel,
conhecem agora o gosto acre esalgado
das lágrimas,
que deságuam na boca, e que escorrem
va-

ga
-ro
-sa
-men
-te pelo rosto,
nascidas do canto dos olhos
que se um dia brilharam de encanto,
agora,
mareados, opacos, molhados.

“...e do riso,
fez-se o pranto...”


Involuntariamente
escorre pelo chão de Vênus
o músculo involuntário.
E o corpo dança no ritmo da mais triste bossa nova.
E na dança pulsa,
tristemente,
o corpo pulsa
Dor. Dor. Dor...

Sobre o mesmo chão onde um dia,
fez-se amor em Vênus,
faz-se agora
Fim de caso.


F.L. - *poema meu, escrito em jun/2000, publicado em uma antologia poética de novos autores em 2003...

domingo, 3 de agosto de 2008

Aonde .?. - Pra onde seu olhar te leva? E você, vai?

Expo Aonde .?. - Pra onde seu olhar te leva? E você, vai?
No Instituto Sedes Sapientiae.

F. L. - A primeira expo a gente nunca esquece............

sábado, 26 de julho de 2008

Nome Pseudo Próprio

Enfim, fomos ao cinema. Era um filme que eu só imaginava assistir com ela pq, a final de contas, nós duas escrevemos blogs, e o filme tratava justamente sobre uma escritora de blogs.
O filme foi um fiasco.
Fiasco total.
Uma história de uma anti-heroina pseudo-junk, que tem uma pseudo necessidade viceral por escrever, é pseudo ninfomaníaca, pseudo escreve bem e a Leandra Leal consegue ser pseudo-atriz neste filme de roteiro pseudo-intelectual.
De fato, o filme era pseudo-interessante. De bom mesmo só o cara sem graça de Ribeirão e o Nerd também.
F.L. - era melhor ter ido ver o Batman!

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O que te faz humano?

A verdade é que meu interesse e meu desejo pela psicologia começou com a fono. No meu próprio atendimento. Era apaixonada pela Rejane. Achava o consultorio dela fantástico com aquelas baywindows - não sei como se escreve - a sala de espera de pé direito gigante para os meus olhos de menina de 8 anos.
Enfim, hoje vejo que minha relação transferencial com a Rejane era enorme. Odiei todas as crianças que lhe faziam desenhos. Fazia outros, iguais, e mais bonitos, obvio. Só para ela colocar no mural também. Queria ser a preferida, a melhor. rs...
E quando sentavamos diante do espelho para ela me ensinar a comer em cima da lingua - !! - me alimentava de outras tantas coisas: do seu olhar só pra mim, do seu afeto e da identificação com este outro humano que "dispensava" 1 hora do seu dia só comigo. Hoje nem sei como conseguia comer debaixo da lingua.
E junto com ela, veio a Olivete Bambina, minha máquina de escrever vermelha - achei!! - e minha intesa paixão por escrever.
Boca e mão sempre foram, para mim, centrais naquilo que me define humana. Escrever e falar. Me comunicar.

E vc, o q te faz humano?

quinta-feira, 17 de julho de 2008

Notícias da Cecília - direto de sua nova vida

Cecília esta ali, olhando pela janela lateral de quarto de dormir, lembrando daquele dia em que recebeu o telegrama cancelando seu tão esperado vôo pássaro. Esta viagem era seu cavaleiro marginal, banhado em ribeirão... Como pôde depositar em algo tão pequeno, uma simples viagem de trabalho/férias, seu desejo de mudar de vida??

Cecília era, naquela época, de fato, uma medrosa. Ou então, como prefere pensar, uma apriosionada num querer tão mixo. Tão pouco. Tão médio. Tão morno. E que de tão nada tinha. Querer mais dá bem mais trabalho. E isto, desde o dia em que enterrou o celular na areia, Cecília bem sabe!

F. L. - amanhã eu juro que eu enterro meu celular na areia!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Fim de namoro

Continuando na vibe de fim de relacionamento, agora vai uma carta mais aberta, um daqueles posts mais diário, saca?
Então, de repente me dei conta que preciso terminar um namoro. Meu namoro com o meu trabalho. Pois é, eu já disse na empresa em que eu atuou que não quero mais trabalhar lá. Por uma série de razões absolutamente justificaveis e depois de muita reflexão. Daí combinamos que eu ficaria um tempo até encerrar meus atendimentos. Aí, mas como terminar é difícil, meu deus!
Mas é bem isto. As razões são concretas, mas e aquelas outras, não tão concretas? Pois bem... tá parcendo namoro, sabe? Aquele que você conheceu o cara, se apaixonou, foi fantástico, mas não deu certo, não dá certo. Vc sabe, ele também. Mas, aí, que droga, vc queria tanto que pudesse ser diferente! Se mudasse tudo, e continuasse o cara, vc ficava! Mas se mudar tudo, já não é mais o mesmo cara né? Então.... Bom, daí vcs conversam, decidem terminar. Terminam. E mesmo antes de terminar até já aparece um cara novo na parada, mas é só fogo de palha, não vinga nada. Legalzinho, tal... daí bate aquela solidão e vc pega, volta a ficar com ex... fica, fica... sem compromisso, claro! Vcs dois sabem q é só ficar! Daí, vc sai com as suas amigas, não fica com ninguém!!! Todas elas ficando com caras legais, e vc lá, pra titia! Bom, tb, se vc não desempatar com o outro - q vc jura q não tem mais nada, é só sexo delivery - não aparece ninguém mesmo, ué?!!
Aí, aí..... como é difícil terminar!
Se tem uma coisa que eu aprendi na vida é que namorados aparecem. E vão e vem mesmo. Quer você seja uma miss, ou uma mulher normal, ou mesmo feinha! Tem lugar ao sol pra todo mundo, pode crer. Pq o lance é segurança e abrir caminho pra que pessoas apareçam na sua vida, dar chance a vc - e não às pessoas - de ser feliz, conhecer, tentar, pirar... enfim. Mas pra isto, tem q ter coragem. De ficar sozinha, encarar o vazio, e mais do que isto, de que, talvez - muito provavelmente até - seu namorado vai sobreviver sem você, e vai até achar alguém bem mais bacana que você. E pra isto amiga, pra isto tem q respirar fundo e jogar o narcisismo fora! Se não você também não acha um namorado mais legal!
Aí, como é difícil terminar!

F. L.

"O que é que eu não faço
Por onde eu não ando
O que é que eu já não tenho
Quando é que eu não venho
Onde fica a tua casa
Porque é que eu não acho
Quanto é o teu retrato
Como é que eu vou embora????

Porque é que você olha
Para onde eu não ando
Porque é que você anda
Para onde eu não vejo
Onde fica o teu canto
Porque é que eu não ouço
O que é que eu não ganho
Como é que eu vou embora??????????????????????????"
Kid Abelha

terça-feira, 3 de junho de 2008

Fim

Então é assim. Adeus. Sem bilhete, telefonema, carta, telegrama. Fim. Desapareceu no ar. Acordou e nada mais foi como ontem. E agora ela ficou ali, só ela e as paredes... até ontem, paredes-roupas-corpos-urgência-sem roupa-paredes-corpos-gelado-suor-enfim. Até ontem. Hoje não mais. Sei lá o que aconteceu. Acabou, foi isto. Sem indícios? Ou foi ela que não se deu conta? Mas, de que importa? O que importa é que agora ela se mantem ali, inerte, olhando o vazio, contemplando as paredes, assistindo a um filme, o filme das paredes. Segue sem expressão. Ali, esperando que, sei lá, de repente, a porta se abra novamente. Quem sabe?, disse sua amiga.
Telefone, toca, será? alô? Será? Amiga. Droga. Amiga-droga. Amiga que liga nesta hora só comprova que não é ele que ligou. Droga. Até aquele instante ainda tinha a esperança [sempre derradeira] de que fosse ele, e que suspirasse ao seu ouvido e lhe dissesse algo. Qualquer coisa. Desde que qualquer coisa fosse "em 5 minutos estarei ai pra você". Veja, não é com. Não foi erro de digitação. É que agora, na altura do campeonato, ela precisa de um pra - pra deixar de estar com este vazio que sentado ao lado dela, lhe faz companhia, assistindo aos filmes exibidos pelas paredes.

domingo, 4 de maio de 2008

Telegrama

Telegrama


O envelope continuava fechado. A carta ainda estava lá dentro, em cima da velha cristaleira. Cecília estava as voltas com o jantar e nem se deu conta que aquele envelope continuava ali, no mesmo lugar.


Hoje era uma noite muito importante na vida dela, amanhã estaria indo pra tão esperada viagem, e para tanto tinha resolvido que faria um jantar de comemoração. Chamou todos os amigos, a família, e decidiu preparar uma despedida. Na cozinha, a tarde inteira, coitada. Mal teve tempo para notar que o carteiro havia passado pela sua casa, deixado a carta debaixo de sua porta e Dna. Maria, a empregada, havia colocado-a em cima da cristaleira.


Ninguém sabia muito bem o que raios Cecília queria com este jantar, na certa achavam que era mais uma das suas festas malucas. Desde que decidiu morar sozinha já tinha feito centenas de jantares e festas naquela casa, os vizinhos nem reclamavam mais, viram que não tinha jeito mesmo. Cecília era assim, intempestiva. Nem ela mesma sabia o que iria fazer nesta viagem, apenas sabia que iria viajar.


Há muitos anos ela tinha este plano na cabeça, tudo muito arquitetado, o que seria de seu futuro. Entrou cedo na faculdade, estudou jornalismo, formada aos 21 anos, conseguiu emprego em uma dessas revistas de fofoca, não era bem o emprego que ela sempre sonhou, mas pagava bem e era isso que neste momento importava. Fez uma matéria sobre o caso de um artista famoso, que estava transando com um jogador de futebol, e daí o salário veio gordo e choveram oportunidades. Tantas que aos 22 Cecília já morava no seu próprio apartamento. Não foi fácil assim, lógico, mas ela batalhou bastante. O carro que o pai tinha dado de presente quando ela fez 18 anos, entrou como parte do pagamento do apartamento, e agora ela voltara a andar de ônibus, o pai não gostou muito de ver o destino que ela tinha dado ao presente, coisas da vida.


Por uns tempos dividiu o apartamento com uma amiga da época da faculdade, daí ela casou e Ciça – como era chamada pelos amigos – acabou ficando sozinha mesmo. O namorado havia sugerido que morassem juntos, mas ela não quis, muito cedo ainda. Isto tudo já tem 2 anos, desde que Ciça deixou a casa dos pais, aceitou aquele emprego, onde conheceu Luiz Eduardo, o namorado, e há 1 semana e meia que ela reservou a passagem pra França.


O que surgiu, de fato foi uma matéria muito boa. O chefe dela na revista queria que ela cobrisse uma premiação em Cannes, e ela aceitou. Era uma coisa rápida, ia durar uma semana apenas. O que Ciça fez foi um acordo, disse pro chefe que faria a matéria, mandaria tudo pela internet e, como não tirava férias desde sabe-se lá deus quando, engrenaria em 1 mês de férias. Ele resistiu, no começo, mas depois acabou cedendo.


Era uma viagem boba, na verdade, seriam apenas as tais merecidas férias. Mas quem disse que precisava durar só um mês?
Cecília sabia que quando contasse pra família seus planos de ficar fora um mês, os pais teriam um chilique. Os amigos dariam aquela força, porque sabiam que ela andava desgostosa da vida, e estava mesmo precisando respirar novos ares, além disto, sabiam o quanto aquele lugar era importante para ela...


O namorado seria um caso a parte. Nunca se sabia o que esperar dele, em alguns momentos era compreensivo, em outros... Foi por isto que Ciça decidiu não contar pra ninguém sobre suas férias. E ela sempre planejou esta viagem, como algo que um dia ainda iria fazer, além de que, isto não era nada demais! Poderia ter ido antes, é verdade, Cecília vem de uma família rica, só que queria viajar pela suas próprias pernas, e agora, era a hora.


Aliás, estava quase na hora dos convidados chegarem. Engraçado que ela tinha certeza que a mãe apareceria em casa com algum prato, como era de costume. Até hoje ela ainda não confiava em ver a filha na cozinha. O pai viria, reclamando que nunca tem lugar pra parar o carro neste prédio, tomaria um whisky com gelo, e talvez conversaria com os demais convidados. A mãe, depois de deixar a comida na cozinha, iria dar uma geral na casa, porque estava tudo sempre tão bagunçado, e só pararia quando visse as pessoas chegando. Juliana, a irmã, provavelmente viria com o namorado e ficaria num canto do sofá, olhando as coisas como se não estivesse ali. Os amigos chegariam com flores, com bebida, e se bobear, com maconha. Ela tinha dito que era uma festa familiar, que não queria ver um sinal de back naquela casa, mas ia ser difícil. Aliás, precisava tirar o resto da maconha que tinha deixado em cima da pia do banheiro - o melhor lugar pra dexavar. Se Luiz visse, ficaria uma fera. Este era outro também, que logo, logo deve estar batendo na porta, pontual do jeito que ele é. Com certeza ia reclamar do trânsito, tentar transar com ela em cima da mesa da cozinha, ou de qualquer outro canto da casa, porque ainda estava cedo, sempre há tempo para uma rapidinha, se recusaria a usar camisinha porque “fica muito apertado”, ela ia pegar a borrachuda feminina, ele ia dizer que não dava tempo, corta o clima, tal, tal, e se ela dissesse não, ele ia ficar com aquela cara amarrada a noite inteira. Roteiro conhecido.


O jantar estava todo terminado. A casa inteira perfumada de ervas finas e vinho, muito vinho. Durante a preparação ela mais tomou vinho do que usou, daí o molho que era para ser de vinho branco e alecrim se transformou em ervas finas com vinagre de maçã. Pelo menos estava tudo pronto.


Seguiu para o quarto com o resto de vinho numa taça de cristal. Ainda eram 7 horas e os convidados deveriam chegar só às 8 da noite. Foi ao banheiro, pegou o bagulho que ainda restava, não ia jogar fora, bolou, e acendou um pra relaxar. Colocou um jazz e ficou lá, jogada na cama, olhando pro teto e fumando maconha. Amanhã não estaria mais naquele quarto, nem naquela cama. Ia ser só um mês de férias, mas já era tempo pra burro, ainda mais pra ela, que a última viagem longa que tinha feito tinha sido quando completou 15 anos. A cabeça dela parecia um turbilhão, nem a mala tinha feito ainda, meu Deus do céu. Terminou o vinho, o baseado e foi pro banho.


***


O som rolava no rádio, enquanto ela lavava os cabelos. A roupa estava escolhida, em cima da cama. Um vestido de seda vinho, as sandálias pretas que usou no natal passado, e mais nada. Lingerie não tinha escolhido nenhuma, sutien não podia colocar, porque o vestido era totalmente aberto nas costas e calcinha, ah meu bem, pra que calcinha? Até o ginecologista já tinha falado pra ela que não era bom usar calcinha, e ela aderiu totalmente.


Vestiu o vestido, droga, tinha engordado e agora ficavam umas marcas na roupa – “Maldição, mas já era. Deve ser a larica de tanto back que eu tenho fumado. Porra de vestido justo também. E ainda tenho que colocar essa sandalinha, que dá ultima vez me deu bolha... Nossa, quinze pras 8 e nem maquiada eu tô. Preciso de mais vinho. Onde eu deixei o vinho?”


Correu pra cozinha, tomou um grande gole de vinho, fez uma maquiagem rápida, sombra colorida, baton, rimel. Básico. Arrumou os longos cachos, de uns tempos pra cá acobreados, e foi pra sala... O perfume, quase esqueceu. Faz tempo que usava o mesmo, já tinha virado quase supertição, tinha um cheiro forte e doce, muito doce, mas não enjoado - isto nunca.


Passou o perfume por todo o corpo. Apagou a luz. A campainha tocou.


***


- Oi amor, chegou bem na horinha, né? - o sorriso despontava amarelo nos lábios cor de vinho de Ciça.


Luiz entrou, desceu a mão pela cintura dela, como sempre fazia. Notou que, como sempre também, ela estava sem calcinha. Fingiu como sempre, supresa. Beijou o pescoço, e como sempre, a apertou com furia. Cecília, como sempre também, já sabia o que vinha depois. Com tanto vinho na sua corrente sanguínea, o tesão era grande, e ela foi logo abrindo o ziper da calça do malandro, que mais do que depressa já tinha sentado Ciça na mesa da sala e já estava mostrando serviço, como ele mesmo gostava de dizer. Pra acabar logo com aquilo, Cecília gemia no ouvido dele, fingindo gozar. Foi quando a campainha tocou de novo. Ótimo.


- Oi Mãe! Falei pra senhora que não precisava trazer nada, mãe. – arrumando o vestido e os cabelos.


- A filhinha é só uma maionese e uma carne assada. A gente nunca sabe se todos os convidados comem as coisas que a gente faz. Vou colocar lá na cozinha. Queridinha, a Ju mandou avisar que vai chegar mais tarde, ela vem com aquele namorado dela, não tem problema, não é mesmo? Ah, trouxe um bolo de chocolate com suspiros, que eu sei que você gosta e nunca consegue preparar direito, não é mesmo filhota?


- Nossa, em Cecília, este prédio tá cada dia pior, não é minha filha? Não tinha um lugar pra deixar o carro! É o fim da picada. Eu não me conformo com todos estes carros parados aí fora... você convida a gente pra jantar aqui e não tem lugar pra estacionar? Já falei pra sua mãe, esta é a ul...


- João, pelo amor de Deus, deixa a sua filha em paz.


- Não, mas Luiz você não acha? Que absurdo. Eu já nem vinha, porque toda vez é o mesmo inferno, mas tua mãe disse que você pediu muito...


- Amor, traz uma cerveja pra gente?!


As palavras entravam na cabeça dela como uma coisa mecânica, ela só concordava, ou sorria. De vez em quando falava alguma bobagem, alguma coisa do trabalho. A mãe agora percorria a casa, arrumando tudo, colocando os porta retratos no lugar, colando água nas plantinhas, ia acabar encontrando a carta na cristaleira antes de Ciça, e se bobear, era até capaz de ler. O pai e o Luiz tomavam um drink no sofá e falavam da corrida de formula 1 do domingo de manhã. A campainha tocou novamente.


Era a turma inteira. Como todos couberam no elevador é um mistério. Pelo o olhar, estavam todos limpos, que bom, pensou, menos encrenca com a família e o namorado. Logo depois, chegaram os tios, primos, a Ju e o namorado, todos. Até 9 horas já estava todo mundo sentado, ouvindo um som, jogando conversa fora e comendo torradas com patê de atum. O pessoal bebia bastante, e quando Maíra, a amiga com quem Cecília tinha morado há um ano e meio atrás, começou a querer desligar o som pra brincar de Karaokê, Cecília viu que estava na hora de servir a comida, um pouco de glicose atenuaria os efeitos daquele monte de álcool.


Antes que pudesse terminar de pensar em servir o jantar a mãe já tinha colocado a mesa completa. A tal carne assada esperava pelos convidados.


- Queridos, vamos jantar?? A carne assada esta deliciosa!!- disse a mãe.


- E aí Ciça, o que de tão importante você queria com este jantar?


- É mesmo, amor, você ainda não falou nada sobre o motivo deste jantar...


Antes mesmo que Luiz pudesse colocar o ponto final na sua frase, o telefone tocou. Era para ela. Os convidados continuavam na sala, comendo animadamente, enquanto ela ia atender no quarto.


- Olá Cecília. - Só pelo jeito de falar ela já tinha reconhecido a voz fanhosa do seu editor.


- Olá Marco, tudo bem com vc?


- Ótimo minha cara, recebeu meu telegrama?


- Telegrama? Não, não recebi nada.


- Então por isto que você ainda não me ligou. Bem, querida, antes mesmo que você tenha a dor de cabeça de colocar cem casacos na sua mala, e confirmar a passagem, estou ligando pra te comunicar que houve uma mudança de planos. Não faremos mais a cobertura do evento em Cannes, não haverá mais viagem e...


- Mas..


- ...então, vejo você na segunda feira bem cedo no escritório, ok?


Ela estava muda do outro lado da linha.


- O.k.


Como assim? Como assim antes de fazer as malas? E a passagem? Como assim? E as férias? Quem disse que o problema eram as malas? E os planos? Os sonhos? Como assim? Jogados?


Antes mesmo que desse tempo dos olhos encherem de lágrimas, voltou para o jantar.


- Quem era, filha?


- Ninguém importante, mãe. E aí? Gostando da festa?


- Você ainda não disse o motivo da comemoração.


- Então, vamos pegar mais um vinho, e eu falarei.


Seguiu pra cozinha, trouxe o vinho. Falaria o que o vinho mandasse.


- Luiz, resolvi fazer tudo isto porque gostaria de pedir você em casamento.


- Que? – Todos mudos, enquanto Luiz não sabia o que dizer. Na verdade nem Ciça sabia o que estava falando, mas foi a primeira coisa que ocorreu e ela só se deu conta do que falara quando ouviu a própria voz.


- E aí, vai ficar mudo?!


Luiz caminhou até ela, com os olhos mareados e deu um beijo terno em sua mão, dizendo um sim quase inaudível.


Depois disso a festa seguiu tranquilamente, todos muito felizes. Apenas Ciça conserva um olhar distante. Percorria com os olhos... da porta, até o banheiro, passando pela cozinha, pela sala, o som, a cachorra dormindo no canto da sala de tv. Casa velha e conhecida. Morada, porto seguro.


Aos poucos as pessoas forma dispersando, e um a um foram embora, ainda embasbacados com a história de Ciça pedir Luiz em casamento. Só ela não sorria. E logo, logo, se viu só, as voltas com a bagunça da casa.



Levantou-se do sofá, tirou a sandália salto 10, jogou num canto da sala. Mica quase acordou com o barulho do salto batendo no assoalho da sala, balançou o rabinho, e deitou-se de novo.


Respirou profundamente, olhou pro som, colocou Lenny Kravitz, pegou mais uma garrafa de vinho, procurou se ainda tinha bagulho, mas não achou nada. Não estava na fissura de ligar pro Tony pedindo maconha às 3 da manhã. O vinho dava pro gasto. Abriu a garrafa, deu um grande gole, sorvendo o máximo que podia, de uma só vez. Sentia o vinho descer macio pela sua garganta e desabar no estômago. Uma gota escorreu pelo canto da sua boca e pacientemente ela limpou a gotinha teimosa, nisso deixou que a garrafa escorregasse de sua mão e se espatifasse no chão, quebrando em mil pedaços. Os cacos estavam por todos os lados, e o vinho já tingia todo o sofá de vermelho.


Tentou juntar os cacos, conter o vinho, mas era tarde para conter. Era tarde. Tarde pra tudo. Jogou-se no chão, juntou-se aos cacos e ao vinho derramado, e deixou as lágrimas escorrerem quentes pelo rosto. Meu Deus do céu, que vida é esta? Que vida maldita é esta?


Do chão, avistou um envelope marrom em cima da cristaleira. Devia ser ele. Como não tinha visto antes? Com dificuldade, ergueu-se do chão, pegou o envelope, colocou junto ao peito. Abriu de uma vez só. No alto lia-se urgente, dentro o conteúdo já era conhecido, viagem cancelada. Em um movimento só, rasgou aquilo em cem pedaços e jogou janela a baixo.


Sentou-se na varando, olhando as estrelas. Um caco havia entrado na sua pele e ela via o sangue escorrendo devagar pelas mãos. Apertou fortemente aquele pedaço de vidro, e sentiu muita dor, dor, muita dor. Queria saber se estava viva, se ainda era capaz de sentir alguma coisa, se aquele corpo ainda era dela, se aquela vida ainda era dela, se ela ainda era dela.


Respirou fundo, levantou, seguiu para o quarto de dormir. Em cima da cama, a passagem que o boy tinha deixado na sua casa ontem, reluzia o dia do embarque: domingo, 25 de Março, 22 horas.


Ligou o chuveiro. Tirou a roupa. Entrou no banho.




A água escorria doce e lenta pelo corpo inerte de Cecília. As memórias lhe viam aos olhos a todo instante, e quando pensava na garrafa de Chatô que havia se quebrado, via seus sonhos boiando dentro do vinho, que agora tinha se esparramado pela sala. Meu Deus, que droga de vida é esta? era a frase que se repetia como um daquels mantras da aula de yoga.
***
Como de costume, na manhã seguinte Dna. Norma ligou querendo saber se a casa já estava arrumada, se precisava de ajuda. Igualzinho as outras manhãs, a secretária eletrônica denunciava que não tinha ninguém mais na casa, e como todas as manhãs, ela tentou ligar no celular, e igual a todas as manhãs, Cecília não atendeu, Dna Norma deixou um recado pedindo o retorno da ligação e foi tomar café... Como sempre, abriu a porta para pegar o jornal que já deveria estar lá, porém, diferente de todas as manhãs, em cima das manchetes calamitosas, reluzia um envelope vermelho, com os dizeres “a todos”, sem titubear, abriu a carta e leu:

“ Era uma vez uma menina que vivia numa terra muito longe daqui. Era uma menina doce, tinha uma vida boa, e até já era prometida a um tal de Príncipe Encantado. Numa certa noite, porém, a jovem garota teve um sonho. Sonhou ganhar o mundo e ao fazer isto descobrir a si mesma. E o sonho durou a noite toda e a manhã seguinte, e a outra noite, a outra manhã, e... Então a menina decidiu que iria procurar a fada madrinha e lhe pedir que realizasse seu desejo. Na manhã seguinte a menina foi lá, pediu a fada o que queria, e quando o pedido estava se materializando diante de seus olhos, a menina descobriu que tudo aquilo não passava de um sonho. Triste, correu para o coração da floresta, quando teve a sublime certeza de que não precisaria da fada madrinha para realizar seu desejo, faria isto por si mesma...Cecília."

***
Durante o banho Cecília chorou, e chorando teve uma idéia insana. Já era tarde da noite. Saiu do chuveiro depois de uma hora, sem lágrimas para secar. Tinha um olhar decido na face; colocou seu pijama e dormiu o sono mais profundo de toda a sua vida.

Pontualmente às 6 horas Mica estava abanando o rabo ao lado da cama de Cecília. Pontualmente às 7 horas Cecília levantou-se, vestiu aquele jeans velho, uma camiseta branca e pontualmente às 7:30 estava tomando café da manhã, e pontualmente às 8 horas já estava fora de casa. Mas pontualmente às 8:15 Cecília não chegou ao escritório. Cecília nunca mais chegaria ao escritório.

Firmou os passos, entrou no carro, dirigiu-se, rápida e insana, para a casa da mãe. No caminho não pensava em nada. Neste momento Cecília era só ação. Largou um bilhete em cima do jornal dos pais. Continuou, frenética, o seu caminho. Seguiu para a Barra da Tijuca.

Aquelas pessoas andando, carros correndo no fluxo contrário, contas a pagar, problemas a resolver. Nada mais afetava Cecília. Ela agora era menina, que descia do carro correndo, com sede de mar, areia e sol. Mergulhou na onda. Mergulhou. E naquela hora sentiu todo aquele torpor que vinha sendo sua vida nos últimos anos. Chega. Do torpor e desta vida, entediada... um amontoado de repetições, chega. Onde estava a vida da sua vida? Onde?

Deitou ao sol, calmamente... enterrou seu celular na areia. Adeus. Ainda se ouvia o som do toque, era a velha vida de Cecília q a chamava, vez ou outra, vamos menina, volte para o mundo real. Entregou-se ao sol e mais nada.

Deixou o sol secar a roupa, que colava na sua pele molhada. Levantou, e foi direto ao encontro do seu destino.


Menina-que-quer-ser-escritora.


Textoterapia cardíaca: A bicicleta da Mariana

Então a bicicleta amarela foi para oficina pela primeira vez! Mariana, dona da bicicleta, ficaria uma semana sem passear com as amigas! Teriam que achar outra coisa pra brincar.

Mariana era a mais nova da turma, cardíaca, há pouco tempo tinha feito uma cirurgia e finalmente podia brincar de bike sem se cansar nem mais nem menos que as outras meninas. Andava, andava, feliz da vida. Do alto dos seus 5 anos de idade, sabia bem o que significava poder andar de bike na sua breve existência conturbada. Digo conturbada porque criança com problema de coração, sabe, madura antes do que as outras frutas! Mas tem um lado bom, brinca de montão quando vai pra brinquedoteca do hospital e ganha presente à beça! Em compensação, sente dor pra caramba depois da operação. Dói mesmo, precisa de ver aquele monte de grampo dentro do peito da gente. Tem que ter coragem, viu?!

Agora, eu fico aqui pensando, o que será que os namorados vão achar quando ela tirar a blusa, lá pelos seus dezoito anos? Porque sabe, a pessoa cresce, o corpo cresce... a cicatriz cresce também. Bem, mas isto é preocupação pra quando a pessoa cresce!

A pessoa cresce! Frase boba essa, mas Mariana sabia bem o peso. Crescer era um sonho pra alguém que estava fadada a não crescer. Não viver. Ela então, agora pode dizer que vai crescer. Talvez não cresça. Talvez a Roberta também não cresça. Não faz mal. Agora ela é normal, tem perspectiva. Pode morrer amanhã tanto quanto a Roberta, a Juzinha e Carol. Não pode morrer mais que as outras. Agora pode igual e poder igual é um poder incrível! Apesar de que, não podemos negar, saber de tudo isso quando a gente ainda tem 5 anos é ser um poucão diferente das outras companheiras de bike, né? Mas, isso não importa. Quer dizer, importar importa, mas o que é isso diante de poder andar de bicicleta? Diante de um coração que bate, as vezes meio descompassado, mas que bate o suficiente pra dar pra andar de bicicleta com a turma de amigas? Diante de ter turma de amigas? Pois se este coração não estivesse aí não daria nem pra estar chateada por não poder andar de bike, porque a gente só chateia por algo quando a gente já experimentou, senão não faria diferença ficar sem a bike, pra quem nunca ficou com, não é mesmo? Seria apenas mais uma semana sem bicicleta, como as outras... Aliás, capaz dela nem quebrar, nunca teria sido usada mesmo!!

Agora é isto! Mariana vai ficar uma semana emburrada esperando sua magrela voltar do conserto! E como é bom ficar emburrada por isso!!!!

Casa

Então ela desceu as escadas, apagou as luzes e ficou ali, sentada no último degrau. Tudo escuro, silêncio, mãe dormindo, todos dormindo. Só ela ali, sentanda na escada. Ao menos esta hora podia ficar ali, sentada na escada sozinha, contemplando o nada, fazendo nada, pensando em nada ou em alguma coisa, se assim fosse, se assim quisesse, se assim acontecesse...

Casa estranha essa, pensava. Tanta gente que anda e que corre de um lado pro outro. Comida pra cá, pra lá. Aula disso, daquilo, palestras, linha, agulha, dr. disso, dr. daquilo, brinquedos que nunca tinha visto, gente que vem e fica um monte de tempo, gente que vem e vai logo, gente que vem só pra olhar, gente a sorrir e a cantar - tá vendo, vira até música!

Música de uma casa, mas não daquela muito engraçada, sem teto, sem nada. Música desta casa, pedaço de concreto, erguido nesta tal selva de pedra, com tijolos de vidro pra deixar o sol entrar e o pensamento sair, podendo andar por aí, a solta, a caça, a deriva. Casa com pessoas, de pessoas, para pessoas. Casa de coração, com coração, para coração de pessoas, com pessoas, para pessoas de coração.

Casa de amigos. De angustias. Casa de esperança. Casa de desespero. Casa de encontros e desencontros. Casa de pessoas de todos os cantos e dos cantos todos. Casa de coração feliz, triste, doente, apertado, amargurado, saudável, esquisito, apaixonado, saudoso, querido, esperado, novo, operado, deslumbrado, conhecido, antigo, preocupado, orgulhoso, alegre, do sul, do norte, nordeste, sudeste, que toma banho de rio, de mar, que nunca viu o mar, de sol, chuva, de brincadeiras. Enfim, coração destes que a gente tem no peito ... e que pulsam em compassos que as vezes fazem valsas, outras meregue, tango, rumba, maracatu, samba, minueto, rock, balada pra amar...

Casa-de-apoio, ela leu numa placa logo em frente a escada. E então, apoiando-se nos degrus, levantou, subiu pro quarto, cobriu a mãe, deitou e deixou que seu coração naquele momento, dentro daquela casa cheia de casas, soasse apenas uma canção de ninar.

F. L. - boa noite.

Bolha de Sabão

"Cada vez que respiramos, afastamos a morte que nos ameaça (...). No final, ela vence, pois desde o nascimento esse é nosso destino e ela brinca um pouco com sua presa antes de comê-la. Mas continuamos vivendo com grande interesse e inquietação pelo maior tempo possível, da mesma forma que sopramos uma bolha de sabão até ficar bem grande, embora tenhamos absoluta certeza de que vai estourar" (Shoupenhauer: 1969, vol. 1, p.311)

A Menina passeia pelas estradas, olha uma flor aqui, um pássaro ali, corre um pouco, ofega, descansa sentada perto de uma árvore de maçãs. Anda outro pouco, brinca com o vento, com as borboletas coloridas. E leva na mão sua bolha de sabão, que ela insuflou há muito tempo, lá longe... e desde então a carrega nas mãos. Com delicadeza ela a passa de uma mão para outra, jogando cuidadosamente. Brincando com a fragilidade e força daquela bolha, que ainda mantem-se translucida e brilhosa nas suas mãos. É sua eterna companheira. Aonde esta, a bolha esta. Sempre com ela, junto a ela. Sabe, isso as vezes cansa, chateia e então ela tem vontade de estourar logo aquela bolha chata, arremessar para bem longe dela! As vezes até faz isso, imagina só! E a bolha fica fraca, quase transaparente, parecendo que vai se dissolver no ar. Daí as vezes ela se apavora, com medo de ficar sem a bolha e corre logo a cuidar dela. Outras vezes, bem, outras vezes esta tão cansada que nem liga, imagina!

Dizem lá no vilarejo que ela mora, que todos temos a nossa bolha de sabão conosco. Alguns a carregam nas mãos logo cedo; outros só vão se dar conta dela mais tarde; outros podem nunca perceber que ela estava ali, só quando ela estoura; e outros, imagina só, brincam com ela como se ela nunca fosse estourar! Até parece!!! Todo mundo sabe que a única verdade imutável deste mundo é que todas as bolhas de sabão estouram um dia.

A Menina era uma dessas pessoas que logo cedo descobriu sua bolha de sabão. E mais cedo ainda descobriu que cedo ou tarde, ela se esvairia, transparente no ar. A Menina, na sua meninice, descobriu também que tinha que carregar a bolha com cuidado, pelos caminhos da vida afora. Jogar a bolha de mão em mão era até gostoso, mas sempre lhe lembrava que hora ou outra essa bolha ia estourar. E isso não era nada gostoso. Não era gostoso menina na meninice descobrir que hora ou outra a bolha estoura. Não era não. Deixava a meninice com um pouco de adultice, sabe como é? Fruta que madura antes no pé?!

Menina na meninice não entende bem essas coisas de bolha de sabão e de bolha de sabão que estoura. Porque menina na meninice sabe mais é que tem uma bolha lá, bonita, legal a beça, pra gente brincar a beça!! Quer mais é se divertir com ela, nem pensa que bolha de sabão pode estourar. Tudo pode acontecer, menos acabar a brincadeira de ser menina na meninice com bolha de sabão para brincar até láaaaaaaaa longe..... Mas essa Menina da nossa história era uma menina diferente, que já na meninice entendia tudo isso, que as vezes nem gente grande sabe! E por isso tinha horas que aquela bolha pesava um tantão assim, ô!! Então a Menina falava bem baixinho pra um ou outro que cruzava seu caminho: "Ajuda a carregar, ajuda?"

F.L.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Arquivo Inicial

Mudei de Casa!

Pra quem já acompanhou um dia, apenas mudei de endereço... a estética do blogspot estava mais interessante por hora, enquanto não encontro hora para por a mão na massa e criar um template mais pessoal... em todo caso, vou re-publicar alguns textos velhos, das minhas velhas andanças pelos blogs por aí!


14/08/2006


Vai entrando!Pode entrar! Isso, vai entrando, senta aí! Quer um chá, cafê? Pedaço de bolo, vc aceita? Sinta-se em casa, viu?!


Aqui é minha casinha, pequinina, casinha de bonecas, da árvore, mansão nos jardins... Minha casa, palco de sonhos, viagens, dramas, mentirinhas, mentirosas, causos, histórias, contos, recordações... Casa que vai se criando e recriando no tempo-espaço-vida.


Esta é terceira vez que mudo de casa. Já fui fada, já dividi uma casa com um mago e até bem pouco tempo atrás, ficava a portas fechadas. Agora decidi que não preciso mais ser fada, posso ser eu mesma, a Menina-Que-Quer-Ser-Escritora!


E daqui por diante, quero portas abertas para deixar o sol entrar...!


F. L. - abre a porta, mariquinha!


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"SÓ ME ENCONTRO NA PALAVRA,
MINHA ÚLTIMA TRINCHEIRA"


Ruy Guerra


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24/08/2006

Fragmentos da história da Menina

Menina-que-quer-ser-escritora. Filha da Mãe-que-queria-ter-escrito-um-livro. Menina que roubava os óculos da Mãe para ser inteligente. Menina que ganhou a máquina de escrever, Olivetti Bambina - branca e vermelha - antes dos 10 anos.

Menina que pediu a máquina porque já queria começar a escrever seus livros logo. (Apressadinha essa Menina!) Menina que escreve diário desde os 8 anos. Menina que escreve poemas e tem um deles num livro - agora falta plantar a árvore e ter um filho.

Menina que acredita em contos de fadas. Em fadas. Em fadas que não se casam com príncipes encantados. Casam-se com curingas, que repletos de encantos deixaram de ser príncipes e se tornaram curingas multi coloridos! Só um curinga poderia se casar com uma fada. E ousar chamá-la para o eterno. Que ousadia a dele! Ler nos olhos dela o que ela queria!

F. - quase um 1 ano de "feliz para sempre"

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24/08/2006

Debutar

Reprise: Texto de 1 ano atrás...
Minha mão é tão pequena perto da dele. Muito pequena mesmo. Quando nos vi na tela da tv, percebi que, se mudassem o cenário, a festa bem que poderia ser de debutante... e no fundo, bem que era mesmo. Mas um debutante com outro sentido. A gente debuta tantas vezes na vida, não é? Porque, pensa comigo, debutar é iniciar-se, e a gente sempre tá se iniciando em algo novo na vida - se não está, deveria. Naquela dia que minha mão pareceu tão pequena, nós debutavamos... iniciando de mãos dadas o caminho q decidimos trilhar juntos!!

Mas eu, com mãos pequenas e rosto de menina- debutante- de- 15 anos, materializava também aquilo que o Aurélio descreve sobre a debutante: "mocinha que estréia na vida social". Apesar das mãos pequenas, do olhar de criança, foi naquele dia, e só a partir dele, que o meu mundo passou a olhar pra mim como Mulher. E agora, As Pessoas da Sala de Jantar me oferecem vinho tinto quando as visito. E deixaram de ser Pessoas da Sala de Jantar pra mim. Se tornaram apenas meus Pais.Mas isso é só um "debut" de uma longa conversa....

F.- há quase 1 ano autorizada para usar saltos altos

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25/09/2006

I´m colorblind MESMO

Já dizia a velha cúpula, a vida é sempre um pouco mais do mesmo, mesmo. Que se repete horas mais, horas mesmo, horas mais do mesmo. Mas sempre em ondas de torpor intenso - num paradoxo em que o torpor pode ser intenso. Ondas que vem, vão, vem e vão, invadindo olhos, boca, nariz, poros, vidas. Horas devastando, horas lavando, levando, levando-me. Me leva, então.
Repetições que se repetem e se sorvem a si mesmas mil vezes ao dia, mil dias por vez, numa liberdade poética insana, hiberbólica, pleunástica daquele MESMO.
E quando penso que estou enxergando cores no infinito, reflito no espelho e vejo que sou colorblind, seeing only coffe black and egg white. Trancada no escuro e fundo da alma, listening the fuking Tom Wats e me deixando invadir e possuir por um pouco mais do MESMO.
Mesmice, mesmificado, mumificante, mumificado. Trancafiado num círculo que insistosamente sempre volta ao MESMO lugar MESMO, e sempre me volta ao MESMO lugar MESMO.
E eu? Eu tenho medo do MESMO.

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27/10/2006

Ponto Dark

Pra ser a tal casa da menina-que-quer-ser-escritora até que ela anda bem vazia de palavras. Casa vazia. Menina-que-quer-ser. Palavras. Tudo assim, meio jogado, perdido, bagunçado, estilhaçado, fragmentado. Difícil juntar as palavras-frases-texto-e-ponto-final. Tudo esta difícil. Quase tudo. Menos ele, porto-seguro-para-dias-de-sol-e-chuva. Mas até dele esta difícil escrever. Esta difícil escrever. Esta difícil. Ponto.

As vontades que guardo na minha bolsa amarela sumiram. Na verdade ficou uma lá. Vontade de sumir. Assim, deste tom mesmo que você esta vendo. Dark gray. Pois é, eu sei, supresas na sala de jantar! Casa cor-de-rosa de menina cor-de-rosa também fica dark de quando em quando. Acontece que quando agora tem sido muito. E você sabe, não sou lá muito fã de somar o adjetivo dark com algum adverbio de intesidade. Dark já intenso o suficiente. Dark na casa-da-menina-que-quer-ser-escritora então, é ainda mais tenso/intenso.

A poética Dark sempre é mais bonita. Tem mais vida. Paradoxal? Não sei... Acho que aquela vida, sabe aquela? Sabe, eu sei... aquela que a gente sente se esvair do próprio corpo na hora que se questiona de que valem as horas (nunca se questionou? Sorte a sua.)... bom, esta vida aí, que escorre de você, toma corpo no papel e ganha VIDA com letras maísculas. Sempre que escrevo sinto este VIDA em letras douradas. Sempre que me perco, me acho por aqui.

Pois bem, a escrita me retoma e me retorna a mim (aos poucos, evidente). Assustado? É, meninas-cor-de-rosa-que-acreditam-em-contos-fada podem ser mais Darks do que você pensava. Mas eu avisei, a você e a mim, escrever de portas abertas e luz acesa implica em riscos: de você se assustar e eu, de ficar com medo de te assustar. Mas e daí, de que vale escrever? Se não vem das visceras?

E agora, fico aqui, sentada aqui na minha sala cor-de-rosa-dark-side-of-the-moon, enjoing my blood time. Pode fechar a porta quando sair...i´ll be ok.

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30/10/2006

Paisagem na Janela
By Milton Nascimento


"Da janela lateral do quarto de dormir

Vejo uma igreja, um sinal de glória

Vejo um muro branco e um vôo, pássaro

Vejo uma grade, um velho sinal

Mensageiro natural de coisas naturais

Quando eu falava dessas cores mórbidas

Quando eu falava desse homens sórdidos

Quando eu falava desse temporal

Você não escutou

Você não quer acreditar

Mas isso é tão normal

Você não quis acreditar

Que eu apenas era

Cavaleiro marginal lavado em ribeirão

Cavaleiro negro que viveu mistérios

Cavaleiro e senhor de casa e árvores

Sem querer descanso nem dominical

Cavaleiro marginal banhado em ribeirão

Conhecia as torres e os cemitérios

Conhecia os homens e os seus velórios

Quando olhava da janela lateral

Do quarto de dormir"

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30/10/2006

Me enamorei dos enamorados

Me enamorei dos enamorados. Assim, fácil assim! Me enamorei dos sorrisos escandalosos e contidos, que aos poucos iam revelando o desejo-beijo. E que delícia... o beijo demorou a acontecer. Adoro o tempo antes do beijo. Ali, da minha mesa, privilegiada, assistia a tudo: os olhos nos olhos que se derramavam opulentos, sedentos, incertos, mas certos dos desejos. Será que ele me quer mesmo? Dava para ler nos olhos dela. E seu eu beijá-la, será que ela vai aceitar? Ele dizia telepaticamente pra mim. E eu fiquei ali. Voyer. Deliciosamente voyer. Tanta, tanta sutileza que dava vontade de guardar num potinho, levar para casa e ir pegando de pouquinho todo dia.


E naquele instante derradeiro, como são os instantes de paixão, trocaram carícias derradeiras, de deleite e sutilezas, até que, então, sutilmente, enovelaram-se no seus próprios enamoramentos e renderem-se em nuvens de beijos. E até por aquele novelo eu me enamorei. Apaixonamente estes instantes que pulsam tanta vida. E então, posso dizer que foi mais que enamoramento. Foram musas. Eles foram minhas musas naquele instante. E quando vi, a inspiração começou a transbordar minha pele, minha alma e tive que começar a escrever ali mesmo, na mesa do bar. Diante dos olhos meus, dois olhos que se perdiam e não cabiam mais em si mesmos e de quando em quando explodiam em beijos ternos, calídos e desejantes, trazendo, então, para diante dos olhos meus, toda a sutileza da resposta "de que valem as horas?". E por um instante, desejei poder continuar a testemunhar vidas-em-desejo como estas.

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11/11/2006

I´ll be the knife of my life!

A vida de old man turned ninety-eight não precisa mais ter sentido, precisa? Ou será que a vida faz sentido em algum momento da vida? Imagina que, então ele won the lottery and died the next day! Isn't it ironic ... don't you think?

Algumas coisas simplismente não fazem sentido. Não fazem. Sentido. Fazem coisas. Porque well, life has a funny way of sneaking up on you!

E eu? Faço o que? A jornada do horói, procurando deixar de ser ten thousand spoons e me transformar em all I need, ser a knife da minha vida!Fê Lopes - And isn't it ironic... don't you think, a little too ironic... and yeah I really do think...


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15/01/2007
Saudades da bolha

As vezes, ele dizia a ela, o autismo é necessário. Não daqueles que não se conversa com ninguém, nem com-si-mesmo. Mas destes autismos-momentos-de-solidão. Daqueles em que falar com ninguém é uma dadiva. Encontrar ninguém. Esquecer q tem corpo, mente, braço, perna, boca, coração, sangue... Entregar-se a solidão solitária daqueles momentos vãos, que se abrem assim mesmo, como vãos... por onde passa o corpo, a mente, escorrendo gelatinosamente, longe dos olhos, mais longe ainda dos corações. O silêncio que se impõe na reclusão necessária da e para a alma. Momento do sem-sentimento. As vezes sentir se esgota, se enjoa, se entedia de si mesmo! E então nada mais delicioso que o torpor do nada, que adentra visceras, sem pudor algum, apagando todo e qualquer rastro de existência de qualquer coisa alguma. Só por alguns segundos mudos, em que o relógio parece não caminhar. Aliás, tudo parece não existir. Nem eu. Ou só eu, sei lá. Só por alguns segundos e então, tudo se (des)encaminha e se vincula aos seus sentidos, significados, sensações, emoções, voltando aos seus lugares mesmos, porém revigorados, oxigenados por este breve segundo de imensa-solitária-solidão-introspecção, que re-trazem vida a vida mesma e suas mesmices de sempre.
[suspiro]

F.L. - saudades da bolha...

***

27/02/2007

Tenho medo do medo que dá

Caminhava, com aquele medo circulando nas veias - ou em rota de colisão. Sour pelo corpo cansado de tantos desejos fértis, suspirando e ansiando por serem fecundados no espaço derradeiro (porque estes espaços são sempre derradeiros!) do olhar. Desejos tão insanos que não invadiam apenas a sua mente, mas sim tomavam todo seu corpo, saindo pelos poros, se multiplicando loucamente pelo dna de suas células mais cardíacas, fazendo da sua respiração tropegos suluços, lampejos daquele pavor (delicioso) conhecido.

F.L. - Quem quer pactuar comigo?

***

28/02/2007

Metade de mim é desejo

E no caminhar, ele se perguntava se serão dois olhos negros que lhe farão cruzar a divisa - novamente, mas dessa vez pra lugares nunca dantes navegados, por este corpo-alma-coração, que esta cansado das águas claras e calmas do leito deste rio em que deita sua existência, pedindo por se aventurar em ondas, maremotos sem fim absolutamente... Diz a si mesmo "metade de mim é desejo, a outra, nem sei...", e não se lembra mais se isto é frase de poeta, ou se é algo assim, deste seu velho coração, que pulsa uma metade desejo, e outra também.

F. L. - ninguém vai pactuar comigo mesmo?

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06/03/2007

Pena!

Que pena que dá da pena, que de tanta pena sente pena por si mesma. Uma pena. Mesmo (mais do)

F. L. - uma pena é só uma pena com pena...

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12/03/2007

Quer me conhecer?

"Quem ao poeta quer entender
a terra do poeta deve percorrer"
Goethe - sempre!


F. L. - viajante urbana


***

14/03/2007

Sempre há tempo para Casimiro...


Hoje fiquei ali, olhando pelo vidro, aquele montinho de pessoas-meninas-pequeninas vestidas de cor de rosa, azul claro, lilás, tutu, coque e sapatilha. Mãos segurando na barra, de frente pro espelho, enquanto os pés passeavam pelo chão, formando pequenos compassos com as pernas pequenas. Depois sentaram neste chão, fizeram pose de borboleta e de longe se via as boquinhas "borboletinha, tá na cozinha, fazendo chocolate para a madrinha..."

Nostálgica lembrança de tempos de plié, demi plié, grand batiman (não me lembro como se escrevem estas coisas), piruetas, andeor, andedã, breu... Tempos nos quais eu sempre estava fora do tempo, fora da pose. Pé direito, dizia a professora, e eu levantava o esquerdo - até hoje. Este corpo, sempre neste seu tempo próprio-impróprio, habitando esta tal in-cordenação motora... este corpo, tão meu já era este corpo!

Gozado que as lembras não tem som. Era uma aula de ballet clássico, mas não lembro que som ela tinha. Lembro das formas que os corpos executavam. Ou que se rebelavam em executar. Ou, no meu caso, se esforçavam ao limete da exaustão em executar... lutando por fazer formas que não formatavam com meus movimentos-ritmo-coordenação - movimentos que não eram nem graciosos, nem não graciosos, apenas meus... singularmente provenientes daquela mesma pessoinha que não engatinhou, rolou pelo chão, sabe? Enfim, minha mémoria do ballet clássico é feita de imagens, desenhos, é coreográfica.

Aí, que saudades deste tempo em que o tempo não importava. Saudades daquela carinha curiosa, absorta no aprender dos passos e em mais nada. Tempo em que se conseguia habitar única e exclusivamente um único lugar - ou não, mas parecia que sim. Tempo em que ser menina era tão singelo, tão simples, tão tão. Eu sei, eu sei. Olhar a infância de adulto é esquecer que todo tempo tem suas angustias e que lá, elas também habitavam. Mas, que delícia que é, olhar pelo vidro, ser embalada pelos movimentos daquelas coisinhas pequenas e esquecer por um tempo desta teoria toda, e poder perder tempo com saudades das doces lembranças e tempos de dançar.


F. L. - num momento de puro Casimiro de Abreu

"Oh! que saudades que tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
— Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é — lago sereno,
O céu — um manto azulado,
O mundo — um sonho dourado,
A vida — um hino d'amor!
Que aurora, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar!
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar!
Oh! dias da minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez das mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minhã irmã!
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
Da camisa aberta o peito,
— Pés descalços, braços nus
— Correndo pelas campinas
A roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo.
Adormecia sorrindo
E despertava a cantar"

***

30/03/2007

Revival
Pensei neste post que fiz em julho de 2002, num outro blog, qdo eu ainda tinha pseudonimo. Me deu vontade de ler novamente.

"Alguns insights sobre a transitoriedade do amor....

Amor não casa com a palavra obrigação. Muito menos obrigação de durar para sempre. Na verdade, amor não casa.

Se há obrigação, não há amor. E daí talvez dure para sempre...

O meu único compromisso é com a felicidade mútua, enquanto ainda sorvermos desta bebida mágica e deliciosa, enquanto ainda tiver deste elixir nos nossos copos, o amor será eterno, e maravilhoso... E ainda será amor... e será ifinitamente delicioso... infinitamente...

Lembro de um poema que eu li quando era garotinha, que tinha um trecho q dizia assim: "meu último amor eterno acabou ontem" . O amor nasceu para ser transitório. Porque o amor é humano, e o humano é transitório. Se queremos transformar o amor em algo estático, esvaziamos o sentido do amor, que nasceu para ser mutante, nasceu para ser humano, nasceu para ser...

A única certeza q tenho é a da minha existência breve e finita. Por que a certeza do amor seria diferente? A única certeza do amor é que ele acabará. Por que controlar o tempo do amor, se podemos vivê-lo o tempo inteiro? Por que controlar o tempo da minha vida, quando posso vivê-la? Por que controlar...?

Que me importa se vai acabar amanhã? Que me importa se vou acordar amanhã? Me importa agora. Já. E se agora estou aqui, estou plena. E quando digo que te amo, amo até o máximo que minha alma puder. Amarei vc eternamente por um minuto. E se no minuto seguinte ainda amar vc, será mais um minuto eterno... mas se não... Pra que querer saber quando, onde, como? Se ainda me preocupo com isto, não estou amando de verdade... quando amo, me perco num labirinto infinito... e tudo que não quero é ser achada... deixe-me amar, perdidamente, loucamente, apaixonadamente, vividamente... amar...

No calor da minha tempestade eu amo. Agora. Urgentemente. Eternamente.

Eu vivo. A vida e o amor. Até quando? Que me importa! Se posso fazer a eternidade a todo segundo, por que fazer uma vez só...? Todos os segundos, os segundos todos, preenchidos de vida... Eterno 60 vezes em um só minuto, DELICIOSAMENTE eterno em um só minuto...

Sininho - devaneios"

F.L. - na teoria tudo é mais bonito!

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31/03/07

Bem me quer, bem te quero!

Bem me quer. Mal me quer. BEM ME QUER!
Bem te quero. Mal te quero. BEM TE QUERO!

A equação do amor é está. Enquanto a balança ainda tiver mais bem me quer e bem te quero, ele continua a ser amor, feliz para sempre, cerquinha branca no quintal! E eu acho que já escrevi isto aqui alguma vez, ou terá sido no blog antigo? Enfim, um dia nós nos olhamos nos olhos e decidimos que queriamos ser felizes para sempre. Mas nunca dissemos que seriamos felizes para sempre todos os minutos da vida-para-sempre que decidimos viver. Felizes para sempre a gente tem que ser na maior parte do tempo. Em alguns momentos a gente briga, grita, bate porta, quer ir embora de vez, nunca mais olhar na sua cara... Ira, vontade de jogar tudo para o alto!

Afinal o que é o homem senão este ser dual, que cheio de paradoxos? Nesta equação da vida a dois somos humanos e não formúlas matemáticas, dogmas imutáveis... E os desejos são assim mesmo, caminham por caminhos que se desencaminham e encontram então novos caminhos... Nosso feliz para sempre se esvaziaria caso exigisse de nós sorrisos prozaquianos que não saem nunca da boca, e teríamos sempre que ser contidos, constantes, inertes, sempre iguais, sempre sorrisos, sempre doce.

Mas a verdade é que te olho. E então te vejo deitado na cama, descanso do guerreiro, companheiro de tantos vãos momentos vãos, de tantas delicias, tantas dúvidas, tantos amores, prazeres e afetos afetados... e lembro que costumava dizer muito antes de te conhecer que queria um amor bem grande, destes que dói o coração. E um homem que argumentasse comigo, quando eu fosse, igual bebe que coloca a mão na tomada para testar se iria levar um choque. Falava também que queria um homem que não fosse embora no amanhacer, mas que olhasse nos meus olhos e dissesse: "olha, nós vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, ou hora ou outra os castelos podem ruir, seja por minha ou sua causa, ou até mesmo pelo destino, eu ou você podemos querer desistir de tudo isto aqui, mas nem que seja por um segundo, eu quero amar você. Nem que seja para acabar daqui dois minutos, eu quero amar você, eu vou amar você, eu amo vc."

Este homem é você.

E enquanto os seus dois olhos negros estiverem nos meus dois olhos negros, e eu os achar os mais lindos que já vi, enquanto meus ouvidos ainda quiserem a sua voz deliciosa a dizer bobagens às 3hs da manhã, enquanto meus lábios ainda quiserem só os teus, eu vou bem te querer mais uns 100 mil eternos por segundo.


F.L. - o amor será eterno novamente, novamente...!

***

19/04/2007

"Eu pressuponho que escrevo por sobrevivência.O texto me exaure até a asfixia plena.É sempre um óbito necessário".

Ézio Deda

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21/04/2007

O que você quer?


" Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas,
que já tem a forma do nosso corpo,
e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia:
e, se não ousarmos fazê-la,
teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos."
Fernanda Pessoa


Estar no mundo parece que nunca foi tão complicado como agora. E, apesar do sofrimento, tenho me esforçado para me manter no olho da complicação. Penso que é neste vão - enquanto abertura de pensamento - que posso transformar e resignificar coisas minhas, tão minhas que se agarram a mim com força, muita força e que se quero ser pessoa, preciso pensar sobre elas.

Já não sei mais nada que penso, que sou, que quero. As pessoas me acolhem ternamente, a mim e as minhas angustia, e angustiadas insistem em dizer faça isto ou aquilo, então eu me pego fazendo coisas - pq esta sou eu, repleta de fazeres, "se tem que fazer, vamos fazer". Fazendo muitas coisas, tomando decisões estéticas... e então, quando deito no divã e me entrego a mim, ela me diz que fazer coisas eu tenho feito e preciso mesmo fazer, mas e o que eu quero. Ponto final porque não sei como colocar uma interrogação nesta frase. Esta sou eu, repleta de fazeres e confusa em meus quereres e desejos. Paraliso. Parece, por um instante, que ninguém nunca tinha me perguntado isto na vida. Ressoa de tal forma que parece pedra que a gente joga na água. O que eu quero, o que eu quero, o que eu quero... e esta frase vai me perseguindo, pulando no meio de uma conversa fiada, na frente da minha máquina fotográfica, entre o beijo, no meio da supervisão, no meio da música, no meio do texto...

E você, o que quer?


F. L. - no duro processo de me tornar astronauta do meu próprio universo.

***

07/05/2007

Dor


Ela passa a tarde em casa. Triste e em casa. Alguém disse que é uma grande mulher, mas melancólica, precisa brilhar mais. Dizem que um homem é mais elegante quando tem uma dor. Pensa que uma mulher também pode ser mais elegante quando tem uma dor. Mas é mais brilhosa quando não tem. A dor deixa opaco e cinza. Cinza é a cor da moda, ela pensa. Dor esta na moda. Todos hoje tem dores. Dizem delas aos 7 ventos. Mas dizer não é sentir. E ela sente. Sente que a tarde é muito mais gostosa quando não há dor nenhuma, nem grande, nem pequena. Se sente pequena, ela me diz numa ligação de final de tarde, destas despretenciosas que só quem sente dores numa tarde é capaz de fazer. Não me diz que sente dor, mas eu percebo pela sua voz e pelo seu olhar, que sinto pelo telefone. Conheço este olhar de corpo vago, procurando dono. Não me diz nada. Quer ouvir da minha dor e ver se assim, esquece da sua. Anestesia a dor do outro. Conheço ela faz tempo. Digo quase nada, mas o suficiente para que lhe aplaque a angustia que arde sem se ver. Então ela fala. Diz que hoje a única coisa que queria era uma fluoxetina e nada mais nos braços. Nunca tomou fluoxetina. Melhor assim. Dá prá idealizar quando não experimentou jamais. Imagina que a vida seria sem dor se ela tomasse fluoxetina. E se já tivesse experimentado e descoberto que de nada adianta mascarar a dor com química?? Que química alguma mascára dor alguma? Melhor assim, então. Fluoxetina é seu príncipe encantado. Seu feliz para sempre. Virá num cavalo branco, lindo, trazendo a felicidade total. Ausência de dor. Odeia segundas feiras. Na segunda sempre se lembra que tem uma dor pra carregar. E esta dor, esta dor pesa. Cansa. E fica lá, martelando. Todo segundo. Lembrando que ela existe. "Ei, menina, lembra, você tem uma dor! Não vai esquecer ela aqui, porque ela é sua". Cansa tanto, que ela só me diz que quer dormir. Falo que Ferenczi disse que "o carater insuportável de uma situação leva a um estado psíquico próximo ao sono, onde tudo o que é possível pode ser transformado da um modo onírico..." Ela não escuta. Não pode. Esta vazia, lembra? A dor deste tipo esvazia. No vazio o som bate pelas paredes e ecoa. Mas não ressoa. Não adentra, penetra, só passa. Como um zunido. Não sinto dó. Sinto dor.

F. L.
"Se ele me deixou, a dor
é minha só, não é de mais ninguém
aos outros eu devolvo a dó,
Eu tenho a minha dor"
(Marisa Monte/ Arnaldo Antunes)


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16/05/2007

Um cerveja, por favor.

Convido você pra uma cerveja hoje. Pensei numa cerveja, pq acho q o papo não é para chá. Fica a vontade, porque aqui em casa é assim mesmo, pode tirar sápato, pôr pé no sofá. Você, que vem aqui, passeia, senta no meu sofá, fica lendo meus manuscritos... então, você mesmo. Então, acho que não me expliquei direito... talvez não tenha dito, mas este blog é uma hipérbole e uma ficção. É, isto mesmo! Hipérbole porque é isso mesmo, um exagero, um execesso, no melhor que a liberdades poética possa me dar, no mais adolescente que isto possa ser, mais drámatico, mais emo, mais tudo de mais que isto possa mais. O que isto quer dizer? As vezes uma dorzinha, pode virar um caso de internação. Pq? Pq assim eu senti? Pq assim eu vivi? Pq assim eu quero que vc sinta? Assim eu quero que vc me veja? Sei lá. Por tudo isto. E por nada disto. Porque, no fim das contas, isto é uma ficção da vida real. E na ficção do meu egocentrismo, eu posso querer o que eu quiser. Assim mesmo, bem egoísta. Aí, que delícia!


Então é isto, só queria deixar claro a minha viagem. Que aliás, é pra isto que este blog serve. Pra minha viagem da minha cabeça viajante. Que é o que eu adoro compartilhar com você!


F. L. - ficção de si mesma

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12/01/2008

A COMPLICADA ARTE DE VER


"A diferença se encontra no lugar onde os olhos são guardados. Se os olhos estão na caixa de ferramentas, eles são apenas ferramentas que usamos por sua função prática. Com eles vemos objetos, sinais luminosos, nomes de ruas _e ajustamos a nossa ação. O ver se subordina ao fazer. Isso é necessário. Mas é muito pobre. Os olhos não gozam... Mas, quando os olhos estão na caixa dos brinquedos, eles se transformam em órgãos de prazer: brincam com o que vêem, olham pelo prazer de olhar, querem fazer amor com o mundo."

Rubem Alves, 71, psicanalista, educador, escritor

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