quarta-feira, 24 de março de 2010

Quando ele se perdeu dela

[pq estou descobrindo que escrever é igual construção civil... então lá vamos nós começar a reforma!]

Vagava por ali, sozinho. Era noite e ele ainda era pequeno. Apesar do porte já ser imponente, e de uma ou outra presa pontuda, ele era pequeno. E era tarde pra aquele ser pequeno estar perambulando por ali sozinho.



À noite, tão escura que era, nem deixava ver o pelo alaranjado dele – que agora era da mesma cor das listras que o cortavam por inteiro.



Por mais um dia, mamãe-tigre havia deixado um tigrinho pra trás. Não que ela fizesse isto por mal, não mesmo. Mas realmente ela não tinha como cuidar de sua ninhada do jeito que eles precisavam, e então de quando em quando perdia um filhote por aí.



Mamãe-tigre perdia eram horas e horas em seus pensamentos perdidos, tingidos de noite! Tantas horas que nem conseguia ver que seus tigrinhos, cobertos de sol, urravam famintos. E foi mesmo em um destes momentos perdidos da mamãe-tigre que ele se escapou dela.



Parado, com olhos de águia assustada, viu que sua mãe já não estava mais lá. Procurou em vão pelas migalhas, aquelas iguais as do João e Maria. Pois é, não havia nenhuma, nenhuminha mesmo. Mamãe-tigre simplesmente tinha evaporado no ar. E sem as migalhas ele sabia que seria difícil encontrá-la, porque desde muito pequeno já tinha notado – encafifado - que, diferente das outras mães, mamãe-tigre não deixava pegadas por onde passava.



E o curioso desta história é que não sabemos quem havia se perdido primeiro, se ele da mãe, se a mãe dele, ou se a mãe dela mesma. O fato é que agora ele era por si só. E na sombra que se projetava na parede da caverna, ele mais perecia um gatinho assustado!



Com a noite se alastrando pelo caminho, ele foi andando o tanto que suas perninhas agüentaram – e olha que isto era muito! Já estava exausto, com sede, saudades de casa, faminto... parou, se deitou num montinho de grama perto do rio. Àquela altura a lua prateava tudo a sua volta, transformando o rio em um espelho gigante. Ele se esticou pelo chão, se arrastou até ficar cara a cara com aquele rio-espelho.



E, de repente, se lembrou que era um tigre. (E isso é muito. )


F.L. - menina-que-quer-ser-escritora rogando pra que baixe um tigre hoje a noite quando eu for ler isto na aula.

terça-feira, 16 de março de 2010

Já tudo isso? - fragmento I

Ela caminhou com passos mornos. O dia estava quente e turvo. O sol tingia tudo que via pela frente, sem dó alguma. Mas mesmo assim seus passos eram mornos. Deu então mais uns passinhos desses pequenos e contidos, e estancou na esquina-de-todos-os-dias. Respirou um tantinho, só o suficiente mesmo, e foi. Atravessou a rua e tudo lhe parecia andar em slowmotion - ela só não sabia quem tinha apertado este botão do controle remoto. As horas corriam pesadas, como se verdadeiros hipopotamos estivessem sentados nos ponteiros do relógio, dificultando o bom funcionamento das engrenagens. Curioso é que mesmo assim ela sempre se surprendia quando via que horas eram -já tudo isso? era sua fala-tique recorrente.

Cruzou a rua e então sentou na padaria xexelenta da outra esquina, pediu um pão na chapa e um guaraná zero.O telefone tocou e parecia longe, será que vinha da sua bolsa? Percebeu então que tudo lhe parecia longe. Até mesmo a bolsa carteiro que trazia colada ao corpo. Até mesmo o corpo. Que não parecia colado a nada. E por um instante sentiu o gosto da manteiga escorrer pela sua boca e, sem medo, sorriu lembrando de algo que lera recentemente, sobre enlouquecer. Ficar maluca deve ser assim, pensou. Quando tudo parece lento e longe do corpo. Incluindo o próprio corpo.

Não, não era o caso. Madá não era louca. Não ficaria louca. Não era o caso, repetiu o terceiro psquiatra que ela procurou desde o dia 12 de janeiro, quando saiu com o diploma de jornalismo da universidade - e nada mais nos braços. E por mais que naquele dia fizesse só chover e a brisa gelada fizesse tudo parecer julho, Madá sentiu morno. E esta sensação do morno, desde então, se grudou a ela com superbonder. 

Morno a rondava já alguns anos, verdade seja dita. Talvez antes mesmo que ela soubesse que aquilo era morno ele já era o monstro que assombrava suas noites suarentas de lençol grudento. Mas agora, agora morno era presente insistente. Personagem principal, cheio de falas, trejeitos e manias de artistas chatos. Exigia mais de mil toalhas brancas no camarim, não queria sair do palco de jeito algum e quando alguém o desagradava, fazia estardalhaço daqueles que dá vontade de apagar a luz e dormir até não mais acordar - nem precisa apagar a luz, na verdade. E Madá era apenas palco para morno, que as poucos ganhava letras maísculas.

(continua)

Fe Lopes - devaneios e ousadias literárias.

sábado, 13 de março de 2010

Só pra não esquecer: Me cansa a mim

Sempre que estou fora, lembro disso aqui que postei faz um tempo, ano passado. E daí ententendo tudo. E lembro, de novo, que o que me cansa é a mim mesma... E então posso ficar tranquila de novo. Pq agora eu sei fazer silêncio no (e com) barulho - e isto é muito.

Me Cansa a Mim.

Eu aprecio o silêncio. O silêncio do nada. Nada mesmo. Sem barulho. Sem corpo. Sem nada. Quando parece que meu corpo se desmaterializa e até eu mesma deixo de existir. Por alguns segundos. Não por muito tempo. Só o nada. O nada que eu curto aos domingos qdo acordo e ele ainda esta dormindo. Então me levanto, abro as cortinas - pq detesto cortinas-deprimidas-fechadas - pego uma caneca com suco, faço um queijo quente e me estiro no sofa, devorando o jornal, a e revista da Folha. Sozinha, em silêncio. Sem pressão de hora, compromisso, almoço. Um momento nada. Nem sei se estou ali mesmo. Um momento inteiramente nada. Interamente meu. Interamente cheio. Um nada, mas um nada muito cheio.

 

Eu acho que coisas demais são intrusivas e tudo que é intrusivo me cansa. Barulho demais. Estampa demais. Todos os excessos me cansam. Até carinho demais. Me invade. Não sei viver de outro jeito. Preciso, desesperdamente dos meus momentos nada. Não são exatamente os excessos q me cansam. Me cansa a mim. Pq nos excessos eu sempre tenho que ser eu por mais tempo, e me sobra pouco tempo pra mim. Não tem aquele tempo pra não ser nada, sabe? Aquele tempo nada, do vazio cheio que disse ai em cima. O tempo da bolha, lembra? Ja falei dele aqui. O tempo bolha, o respiro necessário para voltar a ser. Pra voltar. Pra ser.



Eu admiro o silencio. É isto.



Fe Lopes. - si-lên-ci-o

terça-feira, 9 de março de 2010

Rapidinhas

1. Não bocejei uma única vez na aula de criação literária - quem me conhece, sabe do que eu estou falando!

2. O contador de visitas do blog travou, daí me aproveitei do link no blog dela e coloquei um novo por aqui. Começando do zero. Ou re-começando... sei lá.

Fê Lopes - Menina-que-quer-ser-escritora.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Escreve

Hoje começou o curso de criação literária! Namoro antigo, platônico, finalmente ganhando concretude.
E resolvi postar aqui tudo que eu produzir pro curso. Mesmo que eu ache péssimo. A idéia é postar, sem grande censura. E assim imprimir um ritmo no blog também.

Então, lá vai o primeiro [tô me esforçando muito para escrever com acentuação correta, mas vai ser um processo]:

ESCREVE.

Escreve. Apaga. Volta. Rabisca. Se perde. Arrisca. Tenta. Desiste. Insiste. Idéia. Persiste. Insiste. Escreve. Escreve. Escreve. Lê. Escuta. Vê. Escreve. Apaga. Publica. Volta. Recomeça. Apaga. Começa. Termina. Amassa. Lê. Publica. Posta. Email. Facebook. Orkut. Escreve. Relatório. Fotográfa. Registra. Edita. Escreve. Escreve. Escreve. Vai pra análise. Fala. Beija. Escreve. Trepa. Namora. Escreve. Come. Bebe. Engorda. Emagrece. Escreve. Dorme. Escreve. Sonha. Escreve. Apaga. Insiste. Desiste. Persiste. Inspira. Respira. Soca. Apanha. Bate. Escreve. Luta. Estuda. Grita. Escreve. Beija. Atende. Analisa. Telefona. Faz supervisão. Escreve. Discute. Ouve. Lê. Escreve. Vê. Escreve. Beija. Escreve. Não trepa. Escreve. Faz análise. Escreve. Fotográfa. Apaga. Registra. Recomeça. Escreve. Lê. Estuda. Escreve. Deseja. Escreve. Ensaia. Escreve. Sua. Escreve. Fica. Escreve. Inscreve. Sai. Escreve. Rabisca. Desenha. Se perde. Dirige. Se acha. Escreve. Mergulha. Escreve. Dança. Escreve. Bebe. Escreve. Lê. Escreve. Psicanalisa. Escreve. Dorme. Escreve. Acorda. Apaga. Toma mais uma. Insiste. Brinca. Persiste. Escreve. Acredita. Escreve. Chora. Escreve. Surta. Escreve. Se apaixona. Escreve. Desgosta. Escreve. Sofre. Escreve. Briga. Escreve. Resolve. Escreve. Morre. Escreve. Ama. Escreve. Se perde. Escreve. Se acha. Escreve. Insiste. Escreve. Gosta. Escreve. Fotográfa. Escreve. Conversa. Escreve. Assiste. Escreve. Ouve. Escreve. Dorme. Escreve. Sonha. Escreve. Tem medo. Escreve. Faz xixi. Escreve. Tem dor de barriga. Escreve. Vai pra análise. Escreve. Telefona. Escreve. Acorda. Escreve. Trepa. Escreve. Bebe. Escreve. Come. Escreve. Atende. Escreve. Escreve. Escreve. Apaga. Volta. Rabisca. Insiste. Se perde. Desiste. Desenha. Desajeita. Se acha. Arrisca. Uma xícara de chá. Persiste. Lê. Escreve. Escreve. Escreve. Acredita. Escreve. Deseja. Escreve. É. ESCREVE (escreva). 


Fê Lopes - a menina-que-quer-ser-escritora.

domingo, 7 de março de 2010

que possamos ser cada dia mais MULHERES



Minha mãe me ensinou que a gente não devia jamais aceitar parabéns pelo dia internacional da mulher. Olho para isto hoje de um jeito um pouco diferente. Então, agora como fotógrafa, fiz este cartão com uma imagem feminina, sensual, um rosto comum, sem plásticas, lindo, e principalmente de olhar decido - daqueles que sabem quanto custa bancar seus próprios desejos. Nada daquelas fotos idilicas de mulheres meigas, fofas, rodopiando crianças pelo ar. Nada contra mulheres-que-rodopiam-crianças-pelo-ar. Mas pra mim, no dia internacional da mulher o que temos que celebrar é ser MULHER, este mulher que a gente fala com a boca cheia, sabe? MULHER enquanto ser desejante. E esta, pra mim, é uma imagem de MULHER de verdade. Portanto este flyer não é um cartão de parabéns, pq continuo concordando com a minha mãe que a questão não é dar parabéns. É celebrar, lembrar e reafirmar a importância da construção do feminino enquanto seres desejantes e que bancam seus desejos.

Este cartão que vc esta vendo aí em cima é um cartão daquilo que eu desejo pra mim e pra vc. Que possamos ser cada dia mais MULHERES.


Menina-que-quer-ser-escritora - M.U.L.H.E.R

sábado, 6 de março de 2010

Por andará Cecília?

Tenho pensado muito na Cecília.

O que será que ela fez da vida dela depois daquele dia na praia?

Não sei se dá para saber exatamente o que aconteceu depois daquele instante, porque, ao menos eu imagino, que uma série de coisas devem ter acontecido com ela, e a gente não acompanhou, não vai dar pra saber exatamente, no minuto seguinte da praia, o que aconteceu com ela.

Já sabemos que ela contemplava a vista da janela lateral do quarto de dormir - isto em algum lugar no tempo entre o depois da praia e o antes de agora. E sabemos, que nada, nunca mais, deve ter sido igual depois daquele dia - será mesmo?

Menina-que-quer-ser-escritora - não sabe quem é a Cecília? Clica aqui então!

quarta-feira, 3 de março de 2010

Divagações sobre arte e teorias...

São 11hs da noite e acabo de voltar de uma mesa redonda com este título: Corpo, Identidade e Erotismo. A mesa era composta por 2 artistas, uma curadora de arte e uma historiadora.

Este não é o primeiro evento que eu assisto relacionando arte com teoria . Não arte propriamente dita, mas o trabalho de algum artista com alguma questão teórica. Ano passado fui ver Cristiano Mascaro falar na Sociedade de Psicanálise. Mesma idéia: ele apresentando o trabalho dele e um psicanalista questionando teóricamente o que era mostrado.

Parelelo a tudo isso, acabei de ler - depois de longos, deliciosos e propositalmente estendidos, 6 meses de namoro - o livro da psicanalista e artista plástica Ada Morgenstern, Perseu, Medusa & Camille Claudel: Sobre a experiência da captura estética.

Sabe, sempre tive medo destes encontros arte e teoria. Porque os teóricos e as teorias tentam, na maioria das vezes, explicar a arte. Enquadra-la em uma interpretação, no caso dos psicanalistas, ou em uma teoria. Ada fala sobre isto no livro, da dificuldade de não encararmos a tarefa do diálogo entre arte e teoria desta forma. Mas sim como dois vetores que se afetam e produzem afetações mutuamente.

Naquele primeiro evento na Sociedade Brasileira de Psicanálise, o que aconteceu foi justamente este desastre - ou um desencontro, para ser mais polite. O artista é subversivo por definição, tentar decifrá-lo ou enquadrá-lo só há de produzir desastres mesmo - thanks god!

A historiadora que estava presente no encontro de hoje é incrível, e soube dialogar - e não traduzir - com as obras de arte apresentas -  e  também com os artistas. Entretanto, por serem tomados pela criação, noto que as vezes é difícil ao artista falar da sua criação de modo teórico - ou mesmo olhar para ela através de recortes teóricos. O artista cria num momento quase de possessão, mesmo que isto tenha levado horas de estudo ou anos de trabalho. Não importa o tempo. Me parece que é sempre um estar tomado por tal coisa. Daí a arte aparece para dar um corpo a isto que toma o próprio corpo do artista. E então o que o artista sabe dizer de sua criação acaba se materializando através do ato de expor a sua obra, para que então o expectador construa ali um sentido - triangulando com a obra e o artista.

Continuando esta torrente de divagações produzidas por este fértil encontro de hoje, tô pensando aqui que a Denise Bernuzzi Santana -  a historiadora que estava na mesa redonda - tem um trabalho que é da ordem da arte, e até acho que ela não sabe disso. Todos os textos dela, e agora as coisas ditas nesta noite, produzem este estado de enamoramento - captura, como já diria a Ada - que vivemos com a recepção de uma obra de arte. E isto me fez pensar que as vezes a arte tá em lugares que a gente nem imagina.


Menina-que-quer-ser-escritora - divando.............

Aliás, algumas frases que pincelei da fala da Denise:

"Um amor pode durar a vida intera e também pode valê-la"

"O amor não é para fazer feliz. As vezes faz."

"Hoje há o imperativo de ter prazer a todo custo. Antes, a gente se arrependia dos pecados que TINHAMOS cometido - ou achavamos que tinhamos. Hoje a gente se arrepende dos pecados que não cometemos e deveriamos ter cometido"

"A paixão nos dá insegurança. E são nestes momentos que vc abraça a própria alma."