sexta-feira, 13 de março de 2009

R$ 102,00

102,00 reais. Uma blusa descolada, em alguma loja de descolada. Algumas blusas descoladas, na Jose Paulino. Um sapato. Uma compra no supermercado. Mtas frutas e verduras no hortifruti. Umas 90 garrifinhas de H20H. Pouco menos de ¼ do salario da faxineira. 22,00 a mais que a conducao dela.

Dois tanques do meu carro, abastecidos com alcool. Menos que uma troca de oleo. Recauchutagem dos 4 pneus, com troco de uns 20,00. Lavar o carro 6 vezes.

Um mes de estacionamento no consultorio, mais a conta de luz, e ainda sobra pra uns lanchinhos. Menos da metade do valor do condominio. A faxina do consultorio, e um lanche no black dog.

Meio mes de aula de frances. Mais que uma sessao de drenagem – que ja nao faco mais. Com mais 5,00, a mensalidade da danca que eu queria fazer. Fazer o pe e a mao umas 4 vezes. Depilacao umas 3.

Um pouco menos de 1/5 do valor da mensalidade do Sedes. Menos que uma sessao da analise. Deixar o carro 16 vezes no estacionamento da analise – sem lavar.

Metade do cache de assistente de fotografo em um casamento, festa de debutant e afins. Impressao de 235 fotos 10X15, mais o frete. Meu livro sobre fotografia de casamento. 1/3 do valor da Super Terca, do congresso de fotografia. Metade da encadernacao do portfolio. 1/3 da impressao das folhas do portfolio.

Um jantar num restaurante gostoso – sem vinho. 2 almocos num restuarante bacana durante a restaurant week. Uma supervisao, com 2,00 de troco A entrada para a peca Toc-Toc, com estacionamento e um lanchinho depois. 22 garrafas de cerveja em algum barzinho. 103 latinhas de Itaipava. Umas 5 garrafas do vinho branco do Clube do Sommaliers, que eu adoro. Talvez umas 5 de algum prossecco em promocao. Umas 3 de Chandon, com grana para petiscos interessantes.

14 Almocos no refeitorio da clinica.

16 sessoes de atendimento psicologico na clinica, custeados pelo convenio e divididos com a clinica. O pagamento que a clinica me fez no mes de fevereiro.

E eu, bom, eu fico 102 vezes envergonhada – da clinica, de mim, da saude no Brasil, da profissao que eu escolhi, e bla bla bla. 102 vezes decepcionada. 102 vezes frustrada. 102 vezes arrasada. Choro um bocado de umas 102 lagrimas. 102 vezes pensando no futuro, com estes 102,00 no bolso. E vao me surgindo 102 motivos para dizer que eu nao queria q fosse assim.

F. L. – destrocada.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Escrever

Ela disse q escrever pode ser algo sagrado pra mim. E tao, tao sagrado, guardado a 7 chaves, q por isto deixo ele do lado de fora da sala de analise, quando deito no diva dela. Entao eu pensei que, antes de fotografar, antes de psicologar, antes de antes, havia a escrita. Minha, muito minha, muito propria. Porto seguro. Ancora que ancora eu em mim mesma, que salva o barco quando esta a deriva, assumindo a direcao. Que me salva dos tratores que tentam passar por cima de mim. La esta ela, a escrita, sempre fazendo oposicao, resistencia, frente, dizendo: aqui nao. Lembranca, lembrete daquilo que ha de mais meu, de mais eu. Alarme, alerta, sinal.

Escrever. Diario, conto, cronica, ficcao, relatorio. Qq coisa, desde que a minha assinatura possa surgir. E quando digo assinatura, digo este eu que invade meus textos, sutil ou declarado, mas sempre invasor. Pleno. Transgressor. Marca. Registro pessoal. Tatuagem impressa nas entrelinhas. Pra te avisar, assim, logo de cara, que aqui quem esta escrevendo sou eu, sacou? Eh, narcisismo mesmo. Uma limitacao, como ela disse, esta necessidade de sempre ser reconhecida na e pela a escrita, que dificulta resumos, resenhas e outras chatices mais... Chato mesmo, sem do eu falo.

Ela tem razao sobre a limitacao e o sagrado. Mas a mim me agrada pensar na escrita como um sintoma. Sintoma daqueles que dizem sobre quem vc eh. Nao exatamente o sintoma disfuncional, mas o sintoma como a marca q diz que vc eh e vc, e nao outra pessoa qualquer. Que te singulariza no universo.

Escrita. Um lugar meu, muito meu, repleto de mim, aonde eu me reconheco, me mostro, me lanco, exercito e grito a minha autonomia, minha rebeldia que vem com forca e diz que nao ira se docilizar diante de temas e modelos pre estabelecidos.

Nao gostou?
Nao le.

F. L. - to be me

sexta-feira, 6 de março de 2009

Fotofilosofando

Fundamentalmente a fotografia trata do olhar. Um cliche dizer isto, eu sei. Mas venho pensando muito sobre isto...
Meu tema, em qualquer foto que eu venha a fazer, eh o olhar. Pra onde meu olhar me leva? E eu, vou? Tenho coragem de ir? Me fascina e me enche de questoes a ideia de que eu assito a uma cena junto com vc, mas escolho nela um recorte diferente do seu. Mesmo que estejamos no mesmo angulo, sempre, invariavelmente, nossas fotos sao diferentes.
A foto, assim como um quadro, eh uma expressao do artista. Eh um retrato do fotografo sobre um objeto, uma cena. E talvez pela foto eu consiga ver ate mais do fotografo, do que do proprio fotografado. Por que eu digo isto? Pq aquilo pelo qual meu olhar eh capturado eh uma expressao de quem eu sou, das coisas que me compoem, minha historia, meu momento de vida. O registro jamais eh ingenuo, esta sempre atravessada pelo outro. Na realidade, penso que eh uma triangulacao entre a cena, a camera - que filtra a cena - e o fotografo. Nao eh possivel fazer um trabalho de fotografia isento de vc mesmo. Eh necessario, antes de tudo, a coragem para se expor atraves de uma cena que congela a todos.
Eh aqui que vejo a intersseccao com a psicologia. A interpretacao na clinica eh sempre uma acao que difere de analista para analista. E podem me criticar, mas a escuta nunca eh neutra. Cada um lerara a historia de um jeito diferente, mesmo que a pedra fundamental seja comum. Assim como na fotografia, quando estou em um casamento eu sei que a alianca deve ser registrada. Eu vou registrar. Mas como vou fazer isto eh a minha marca pessoal. Mesmo que o casal, ao ver a foto, nao detecte. Mas ela esta la. Eu sei. Ate mesmo quando nao vejo. Eu sei que eu estou la.
Entao sempre que faco um clique, ele se insere na minha pergunta fundamental: pra onde meu olhar me leva? Pra onde meu desejo me leva? Pq me leva pra este lugar ? E eu, vou e banco os riscos? Ou fujo? Ou finjo que nao vi? Na fotografia eu sinto que eh impossivel se furtar ao desejo. Ele simplismente me captura e me leva. Se ele ira se traduzir em algo belo eh outra historia. Mas ele me captura, me toma, nao me da chance de pensar se eh possivel ou nao. Quando vi, ja cliquei. Meu olhar nao tem o tempo do meu superego. Ele vive no tempo e vai. Pronto, um clique. E dai, se vou me deter sobre aquilo que registrei eh algo a posteriori.
E eu tenho me detido muito sobre isto. E descobri que meus cliques sao fechados demais, nao respiram, como disse um professor. Eu achava que era um problemao. Mas dai assistindo ao filme Um Beijo Roubado - lindo! - entendi que o professor estava certo, meu olhar nao respira. Mas ele nao entendeu que meu olhar nao respira em ambientes abertos, pq minha paixao sao os planos fechados, que quase entram dentro do fotografado. E, hj percebo que meus gostos todos caminham por ai: gosto de filmes de cenas fechadas, historias de casal, com poucos personagens. Nada aberto, cheio de gente, personagens que entram e saem. Nao gosto. Nao quero apreender o mundo todo de uma vez, mas o mundo que existe nos teus olhos, assim, aos poucos. Pq meu desejo, mais secreto e declarado, eh te olhar e pensar pra onde seu olhar te leva? E eternizar este pequeno fragmento de vc, que me captura e me faz querer saber se vc... vc vai pra onde seu olhar te leva?
F.L. - I will be the knife of my life.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Aí q calor..............................

Eu ia falar sobre arte. E sobre viver de arte. E sobre o fato de pensar que viver de psicologia é também viver de arte.

Mas em SP, hj, só consigo falar de água, suor, 40 graus a sombra... e o dos pedaços de mim q ainda não derreteram...

Mas eu ainda vou falar de arte e psicologia.

F. L. - muy caliente!