sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Voltar

São pouco mais de 10hs da noite, e ele já se foi. Guerreiro, lutar, matar algum dragão, e então retornar pros meus braços e abraços.
O tempo passou rápido, e ontem, olhando pra ele, disse como que a gente imaginou que consegueria viver um sem o outro. Oh, isto é uma declaração de amor, ouviu?! Eu disse, risonha. Na verdade, não imaginamos.
E tudo segue delicado. Dormir tarde, acordar cedo. Horas a fio falando nada, uma viagem, silêncios placidos, sexo, brincadeiras, soninho na rede, piscina, tv, banho de banheira, conversa de botequim, vamos fazer dieta quando voltarmos, vamos isto, vamos aquilo... Ele vê o jogo e eu pinto as unhas de pink. Preparo uma lasagna e nem sinto que me transformarei numa mulherzinha. Cozinho com prazer, com deleite. Sem pressa ralo o queijo, colho majericão fresco da horta do meu tio, fujo das abelhas, preparo o molho com tomates de verdade, e então abro a caixa de creme de leito e faço o outro molho, bechamel, não tem noz moscada, tudo bem, vai sem. Tomo uma taça de vinho, ainda de biquini, quase 3 horas da tarde. Coloco até avental. Sem pensar o que estar na cozinha representa, o que... Ah, superego, vá pra puta que te pariu, ok?
Uma lagartixa entra no banheiro. Grito apavorada para o cavaleiro vir salvar a princesa da cidade grande, que tem pavor de lagartixa-dragão-de-comodo! Ele ri, deixa o q esta fazendo pela metade, e vem, rápido, heroi, me salvar. Agradeço e chamo ele de meu herói. Ele ri, acha minha cena patética, mas se infla, delira, e ri gostoso. E eu, nem percebo, mas ser frágil as vezes pode ser tão agradável...
Tudo só nós dois. Ali. Mais fácil abrir estes espaços longe da casa e das moradas conhecidas. Ali, longe dos outros, e de mim mesma e dele mesmo, mais fácil a vida fluir agradável, sem este tal fazer esforço para estar com vc. Estar porque estar é bom, é autêntico, espontâneo. Sem pressão, sem certo e errado. Sem. Um sem tão cheio de coisas nossas.
Na volta, a delicadeza continua a nos circundar. Carinhos, manha, muito sono pela manhã pra ficar um pouco mais com ele por perto - vem dormir comigo hoje? E ele vem, mais cedo, ainda tarde, mas vem, abraça, se aninha. Passa mal um dia, fica assustado e a gente combina que morrer não vale, só daqui muitos anos, ou então juntos, porque este feliz pra sempre tá tão gostoso agora!
E então hoje ele viajou, volta logo, domingo, bobagem, coisa rápida. E eu gosto quando ele sai. Gosto da quietude da casa, da bagunça só minha, de dormir cedo, de tomar cerveja sozinha no sofá, e adormecer por lá mesmo. Gosto. Mas gosto ainda mais da saudades, de esperar o telefone tocar, de ouvir a voz do outro lado, e de te querer de volta logo, assim, pra assistir ao Fantástico comigo, me encher de beijos-mãos-amassos-delícias, pegar minha garrafinha de água, me colocar na cama, boa noite, vem dormir logo?
E sem medo de ser ridícula, miei um fica, não vai. Ele derrete um minuto, diz que fica então. E daí, na porta me fala que volta logo. E eu penso, que na verdade, ele já voltou. Ou melhor: Nós já voltamos.
F. - ai, ai

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Profissao: Historiadora

Tem alguns dias que eu adoro o que eu faco. Digo, ser psicologa. Adoro me produzir para vir ao consultorio e ouvir mais uma historia. E pensar que, singularmente, estou fazendo parte dela.
Hoje foi um dia mais ou menos assim. Sai de casa no meu tradicional bode de acordar cedo, desgostosa, e com aquela preguica da volta das ferias, quando o corpo teima em nao querer retornar. Pois bem, cheguei ao consultorio com muito sono, e fiquei lendo uma revista de bobagens, esperando minha paciente chegar. Ela chegou, com sua roupa que se mimetiza com a minha sala e tivemos uma sessao tao bonita, tao bonita... falando sobre caminhos proprios, e a dificuldade de achar o proprio caminho, considerando a influencia de sua historia, mas nao se colando a ela.
Faz um tempo muito que venho flertando com a ideia de abandonar a psicologia. As vezes e pelo retorno financeiro, e porque quero ser independete economicamente - e nao vislumbro esta possibilidade psicologando. Outras porque nao gosto de trabalhar sozinha e o consultorio e muito solitario - ao mesmo tempo, me recuso a trabalhar em qualquer que me obrigue a estar la das 8-18, de segunda a sexta. E outras porque to de saco cheio mesmo.
E tambem porque sinto que nao posso ser duas. Psicologa e Fotografa. Ter 2 identidades. Tenho que escolher.
Quando reflito sobre isto - e tenho feito isto ate ficar exausta - chego a conclusao que tem uma coisa que me definiria profissionalmente: sou uma historiadora, biografa, museologa! E, isto mesmo! Meu trabalho e ouvir historias, registrar historias, testemunhar historias, contar historias, criar historias - nada disto de forma neutra, sempre pelo angulo da minha propria historia. Esta e a linha que liga tudo. Minha verdadeira e unica paixao: a historia mitica do homem comum.
E como ja diria o Caligaris, meu idolo, se a pessoa vier ao seu consultorio e descobrir que a historia dela vale a pena ser contada e ouvida, isto ja e uma puta analise.
Eu nao sou psicologa/psicanalista. Nao sou fotografa. Nem escritora. Sou historiadora - no sentido verdadeiro da palavra.
F. - re-encontrando a minha vocacao.
"Nós acreditávamos – e acreditamos – que a memória social, construída democraticamente, poderia contribuir para criar diferentes perspectivas da nossa sociedade. Uma história de vida é, sem dúvida, uma forma poderosa de entender uma pessoa. Mais do que isso, conhecer – por meio da escuta ou da leitura – um grupo de histórias de vida é uma maneira incrível de expandir nossa visão do mundo, pois elas são peças de informação únicas, que nos mostram como as diferentes pessoas criam suas próprias realidades. " http://www.museudapessoa.net/oquee/oque_nossahistoria.shtml

domingo, 18 de janeiro de 2009

Texto apropriado para o momento

15/01/2007 - Saudades da bolha

As vezes, ele dizia a ela, o autismo é necessário. Não daqueles que não se conversa com ninguém, nem com-si-mesmo. Mas destes autismos-momentos-de-solidão. Daqueles em que falar com ninguém é uma dadiva. Encontrar ninguém. Esquecer q tem corpo, mente, braço, perna, boca, coração, sangue... Entregar-se a solidão solitária daqueles momentos vãos, que se abrem assim mesmo, como vãos... por onde passa o corpo, a mente, escorrendo gelatinosamente, longe dos olhos, mais longe ainda dos corações. O silêncio que se impõe na reclusão necessária da e para a alma. Momento do sem-sentimento. As vezes sentir se esgota, se enjoa, se entedia de si mesmo!
E então nada mais delicioso que o torpor do nada, que adentra visceras, sem pudor algum, apagando todo e qualquer rastro de existência de qualquer coisa alguma. Só por alguns segundos mudos, em que o relógio parece não caminhar. Aliás, tudo parece não existir. Nem eu. Ou só eu, sei lá. Só por alguns segundos e então, tudo se (des)encaminha e se vincula aos seus sentidos, significados, sensações, emoções, voltando aos seus lugares mesmos, porém revigorados, oxigenados por este breve segundo de imensa-solitária-solidão-introspecção, que re-trazem vida a vida mesma e suas mesmices de sempre.
[suspiro]

Rapidinhas sobre a Maysa

Assisti a mini-serie sobre a Maysa estes dias.
Fiquei pensando que Maysa contou uma mentira sobre si mesma, de que era mto isto, mto aquilo, mto mto e dai todos acreditaram que de fato, ela era este MTO deste tamanho, mas na verdade, penso que ela queria mesmo alguem que viesse com a chave que abrisse o cadiado que a mantinha nesta mentira-prisao de excessos, intesidade, forca, potencia, mulher-resolvida... e poder viver a sua verdade com lugar para a fragilidade, a dimensao humana, as vezes ate mesmo entediante, do existir.
Pois e, tome cuidado com o vc diz de vc mesma. As pessoas podem acreditar.
F.L. - um 2009 mais integrado