domingo, 4 de maio de 2008

Textoterapia cardíaca: A bicicleta da Mariana

Então a bicicleta amarela foi para oficina pela primeira vez! Mariana, dona da bicicleta, ficaria uma semana sem passear com as amigas! Teriam que achar outra coisa pra brincar.

Mariana era a mais nova da turma, cardíaca, há pouco tempo tinha feito uma cirurgia e finalmente podia brincar de bike sem se cansar nem mais nem menos que as outras meninas. Andava, andava, feliz da vida. Do alto dos seus 5 anos de idade, sabia bem o que significava poder andar de bike na sua breve existência conturbada. Digo conturbada porque criança com problema de coração, sabe, madura antes do que as outras frutas! Mas tem um lado bom, brinca de montão quando vai pra brinquedoteca do hospital e ganha presente à beça! Em compensação, sente dor pra caramba depois da operação. Dói mesmo, precisa de ver aquele monte de grampo dentro do peito da gente. Tem que ter coragem, viu?!

Agora, eu fico aqui pensando, o que será que os namorados vão achar quando ela tirar a blusa, lá pelos seus dezoito anos? Porque sabe, a pessoa cresce, o corpo cresce... a cicatriz cresce também. Bem, mas isto é preocupação pra quando a pessoa cresce!

A pessoa cresce! Frase boba essa, mas Mariana sabia bem o peso. Crescer era um sonho pra alguém que estava fadada a não crescer. Não viver. Ela então, agora pode dizer que vai crescer. Talvez não cresça. Talvez a Roberta também não cresça. Não faz mal. Agora ela é normal, tem perspectiva. Pode morrer amanhã tanto quanto a Roberta, a Juzinha e Carol. Não pode morrer mais que as outras. Agora pode igual e poder igual é um poder incrível! Apesar de que, não podemos negar, saber de tudo isso quando a gente ainda tem 5 anos é ser um poucão diferente das outras companheiras de bike, né? Mas, isso não importa. Quer dizer, importar importa, mas o que é isso diante de poder andar de bicicleta? Diante de um coração que bate, as vezes meio descompassado, mas que bate o suficiente pra dar pra andar de bicicleta com a turma de amigas? Diante de ter turma de amigas? Pois se este coração não estivesse aí não daria nem pra estar chateada por não poder andar de bike, porque a gente só chateia por algo quando a gente já experimentou, senão não faria diferença ficar sem a bike, pra quem nunca ficou com, não é mesmo? Seria apenas mais uma semana sem bicicleta, como as outras... Aliás, capaz dela nem quebrar, nunca teria sido usada mesmo!!

Agora é isto! Mariana vai ficar uma semana emburrada esperando sua magrela voltar do conserto! E como é bom ficar emburrada por isso!!!!

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