domingo, 3 de janeiro de 2010

Avô

Meu ano novo começou com uma coisa nova, que na verdade não tem nada de novidade nela, mas é daquelas que vc sabe que um dia acontecerão, mas vc nunca acha que será agora.







Pois é. Meu avô esta na UTI, muito grave, com uma infecção generalizada. 83 anos, marcapasso, surdo, um caminhão de cirurgias nas costas, muitas manchinhas roxas pelos braços de tanto AS pra afinar o sangue, catarata... sobrevivente... Pra quem, talvez, o tempo esteja se esvaindo mais rápido. Uma pena pra nós.







Ele esta sedado, entubado, numa UTI sem graça, sem ninguém da família por perto. Só 30 minutos por dia, uma judiação. Pra ele e pra gente, que queria ficar mais perto nestes momentos que, sabemos, podem ser os últimos.







Claro que eu estou triste. Meus avós são pessoas muito queridas pra mim. Muito, um muito tão grande que nem dá pra escrever o quanto é grande. Mas ao mesmo tempo estou tranqüila. O curso natural da vida, ele esta velhinho, não quero que ele sofra, e os 27 anos que estive com ele, aproveitei muito, cada segundo. Então se for para a vida acabar agora, tudo bem, teremos outras pra passarmos outros tempos juntos. E o mais importante é que ficam as histórias que vivemos juntos gravadas não na memória, mas no DNA das células da gente. Dessas que vão compondo quem a gente é.







Fico triste, um pouco além, porque queria muito que os filhos que terei um dia conhecessem o bisavô. E talvez este esteja se tornando um sonho distante. Mas eles vão conhecer, pensei estes dias. Porque as historias dele estarão comigo. E me acalmei uma noite dessas em que chorei muito, pensando quais historias do meu avô eu vou contar aos meus filhos. Vou contar sobre o quanto ele adorava ser caminhoneiro, como ele gostava de carros, como ele terraplanou todas estas estradas por aí, qdo ele entregava leite e o burro empacou, e daí ele deu uma mordida no beiço do burro! (!!), de como ele me enchia por causa dos meus sapatos, dos tênis coloridos, da cor das unhas, de quando ele pediu ao cardiologista que queria assistir ao meu casamento, de como ele chorou quando eu fiz intercambio, de quando ele posou de modelo pra eu tirar umas fotos pra um curso...







Mas a historia que vou adorar contar, e espero que a bisavó possa ajudar, é como, por 58 anos, eles vem sendo um casal tão apaixonado. Brigaram muito, muito e as vezes ela diz que não sabe se casaria com ele novamente (mentira!), mas o amor que eles tem um pelo outro, isto é inegável. Principalmente o amor dele por ela, o olhar apaixonado até hoje, o grude até, o desespero quando ele pegava uma gripe, o carinho, o ciúmes dela usar uma roupa bonita e ficarem olhando – mesmo ela tendo 77 anos. E o jubilo que ele tem em contar, re-contar, e contar novamente, como ele ficou de olho nela quando ela tinha 14 anos, e daí foi cuidando pra poder namorara-la mais tarde. Vou contar, talvez eu chore na hora, mas não tem problema, porque vou contar feliz de ter eu podido ser ouvinte desta e de outras tantas historias, e mais do que isto, de ter podido conviver com alguém com o coração tão bom e ter sido a Nanda, a Nê, a menina, e todos os outros nomes que ele adora me colocar!







E por hora, só me resta rezar, pra que Deus seja bonzinho com ele, e esteja cuidando dele com carinho neste tempo em que tudo esta suspenso. E rezo também pra que aconteça a ele o que for melhor pra ele. Que aqui, se for o caso, aqui a gente vai sobreviver, com muita saudades, e cheios de coisas boas dele com a gente durante o pra sempre que durarmos.







F.L. - suspiros

2 comentários:

Jú Pacheco disse...

Ah, avôs morrem... e é nessa hora, mais que todas as outras, que a gente saca que até na hora de irem embora eles tão ensinando um monte de coisas pra nós!!

Que Nanã leve ele com calma e em paz... e que os médicos permitam que ela faça isso! (piadinha sem graça... sorry)

E, eu sempre digo isso, junto com o Guimarães:


"As pessoas não morrem, elas ficam encantadas!!"

Geraldo disse...

E aqui vai junto a minha prece tbém! Beijos!