quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Sobre psicologia e nos na garganta

A psicóloga, não estas de filme, com cara de paisagem, sombra-rosa-e-sapatilha prata, mas a psicóloga da vida real, que antes de qq coisa é pessoa... bom, ela foi atender a paciente, que também não é estas de filme e clichês, mas sim uma pessoa, antes de ser paciente. E a psicóloga foi dizer a esta paciente que, após 1 ano e 2 meses de trabalho, todas as semanas, 2hs por semana, não poderá mais seguir atendendo a paciente pelo empresa que a contratava. Não poderá não porque o trabalho se encerrou, ou porque a paciente não quer mais e a esta mandando embora - como aconteceu com outros profissionais - nem porque a psicóloga não quer mais. Não poderá porque não pode fingir que não é intolerável e pactuar com uma empresa que remunera seus profissionais tão aviltantemente, muito menos com uma coordenação que crê que o modo mais cuidadoso de se avisar sobre o falecimento de algum paciente é via mensagem de texto. Não dá mais para, paciente e psicóloga, fingirem que estão dentro de uma bolha, a parte da instituição.
E porque o término é institucional, ele é dolorido por demais. E daí, a psicóloga-mto segura-da-sua-decisão foi informar a paciente que, através da empresa, não mais poderia acompanhá-la. E no meio da frase que ensaiou tanto, tantas vezes, engasgou. Ela que, por tempos, foi pontuando a paciente sobre seus engasgos, tosses e afins, que com o tempo foi se dando conta como tais manifestações apareciam em momentos importantes, momentos de "chega, não vou aguentar isto, ou que dor esta história"... pois bem, desta vez foi ela que engasgou e não pode dizer adeus sem lágrimas nos olhos, como já diria alguma musica besta por aí.... Foi atravessada, tomada, cortada pelo seu desejo de ficar, que droga! Não queria que fosse assim!
Não queria que fosse assim. Não queria que a coordenadora-gorda-rídicula fosse assim. Não queria que a grana fosse assim e no final do mes não desse nem o salário de um estagiário de qq coisa. Não queria. E acho que naquela hora eu, a psicóloga, fui tomada por todos os meus não queria, e foi impossível não me emocionar.
No tempo de uma delicadeza-militante, base aonde procuro sempre construir meu trabalho - na foto ou na psicanálise - não haveria como ser diferente. O contato com o outro produz afetações, e não pude, nem posso, me exemir do que isto produz em mim. Se não isto seria um contra-senso entre a prática e a fala. Pensei que foi um mico me emocionar na frente da paciente - já imaginou seu analista chorando??? - ao mesmo tempo não fiquei com vergonha. Não haveria como ser diferente. Esta sou eu, eu nem vou dizer que não queria ser assim, porque é mentira. São nestes momentos que eu lembro e incorporo o tesão que eu sinto pelo o que eu faço.
E que lindo o acolhimento dela, que disse, também emocionada, não dar para digerir isto sem engasgar! Pois é, até eu engasguei.......!
F.L. - engasgada

4 comentários:

Jú Pacheco disse...

Ahhhh que lindo!!!
Eu vim aqui achando que não tinha post novo pra dizer que eu achava que você tinha que escrever mais!
Eis que acho este texto lindo, que só reforça que, sim, você tem que escrever mais!!!

Saudade ô!

Jú Pacheco disse...

PS. O blog tá rosa!!!

:D

Fê Lopes disse...

não é rosa, é lilás! =D
vou escrever mais! to tentando!!!
saudades

Unknown disse...

fê, de sensibilidade militante se constróem muitos nós na garganta e a alma de uma pessoa-humana vitoriosa. belíssimo texto, vc realmente tem que que escrever mais! um beijo grande, m.