São 11hs da noite e acabo de voltar de uma mesa redonda com este título: Corpo, Identidade e Erotismo. A mesa era composta por 2 artistas, uma curadora de arte e uma historiadora.
Este não é o primeiro evento que eu assisto relacionando arte com teoria . Não arte propriamente dita, mas o trabalho de algum artista com alguma questão teórica. Ano passado fui ver Cristiano Mascaro falar na Sociedade de Psicanálise. Mesma idéia: ele apresentando o trabalho dele e um psicanalista questionando teóricamente o que era mostrado.
Parelelo a tudo isso, acabei de ler - depois de longos, deliciosos e propositalmente estendidos, 6 meses de namoro - o livro da psicanalista e artista plástica Ada Morgenstern, Perseu, Medusa & Camille Claudel: Sobre a experiência da captura estética.
Sabe, sempre tive medo destes encontros arte e teoria. Porque os teóricos e as teorias tentam, na maioria das vezes, explicar a arte. Enquadra-la em uma interpretação, no caso dos psicanalistas, ou em uma teoria. Ada fala sobre isto no livro, da dificuldade de não encararmos a tarefa do diálogo entre arte e teoria desta forma. Mas sim como dois vetores que se afetam e produzem afetações mutuamente.
Naquele primeiro evento na Sociedade Brasileira de Psicanálise, o que aconteceu foi justamente este desastre - ou um desencontro, para ser mais polite. O artista é subversivo por definição, tentar decifrá-lo ou enquadrá-lo só há de produzir desastres mesmo - thanks god!
A historiadora que estava presente no encontro de hoje é incrível, e soube dialogar - e não traduzir - com as obras de arte apresentas - e também com os artistas. Entretanto, por serem tomados pela criação, noto que as vezes é difícil ao artista falar da sua criação de modo teórico - ou mesmo olhar para ela através de recortes teóricos. O artista cria num momento quase de possessão, mesmo que isto tenha levado horas de estudo ou anos de trabalho. Não importa o tempo. Me parece que é sempre um estar tomado por tal coisa. Daí a arte aparece para dar um corpo a isto que toma o próprio corpo do artista. E então o que o artista sabe dizer de sua criação acaba se materializando através do ato de expor a sua obra, para que então o expectador construa ali um sentido - triangulando com a obra e o artista.
Continuando esta torrente de divagações produzidas por este fértil encontro de hoje, tô pensando aqui que a Denise Bernuzzi Santana - a historiadora que estava na mesa redonda - tem um trabalho que é da ordem da arte, e até acho que ela não sabe disso. Todos os textos dela, e agora as coisas ditas nesta noite, produzem este estado de enamoramento - captura, como já diria a Ada - que vivemos com a recepção de uma obra de arte. E isto me fez pensar que as vezes a arte tá em lugares que a gente nem imagina.
Menina-que-quer-ser-escritora - divando.............
Aliás, algumas frases que pincelei da fala da Denise:
"Um amor pode durar a vida intera e também pode valê-la"
"O amor não é para fazer feliz. As vezes faz."
"Hoje há o imperativo de ter prazer a todo custo. Antes, a gente se arrependia dos pecados que TINHAMOS cometido - ou achavamos que tinhamos. Hoje a gente se arrepende dos pecados que não cometemos e deveriamos ter cometido"
"A paixão nos dá insegurança. E são nestes momentos que vc abraça a própria alma."
2 comentários:
O Lê tá fazendo uma aula dela na PUC, de sexta a tarde!!
muuuuuuuuito chique vc!
(estou um pouco atrasada com a leitura do seu blog e vou fazer comentários antiiiiiiiiiiiiiiiiigos!)
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