Vagava por ali, sozinho. Era noite e ele ainda era pequeno. Apesar do porte já ser imponente, e de uma ou outra presa pontuda, ele era pequeno. E era tarde pra aquele ser pequeno estar perambulando por ali sozinho.
À noite, tão escura que era, nem deixava ver o pelo alaranjado dele – que agora era da mesma cor das listras que o cortavam por inteiro.
Por mais um dia, mamãe-tigre havia deixado um tigrinho pra trás. Não que ela fizesse isto por mal, não mesmo. Mas realmente ela não tinha como cuidar de sua ninhada do jeito que eles precisavam, e então de quando em quando perdia um filhote por aí.
Mamãe-tigre perdia eram horas e horas em seus pensamentos perdidos, tingidos de noite! Tantas horas que nem conseguia ver que seus tigrinhos, cobertos de sol, urravam famintos. E foi mesmo em um destes momentos perdidos da mamãe-tigre que ele se escapou dela.
Parado, com olhos de águia assustada, viu que sua mãe já não estava mais lá. Procurou em vão pelas migalhas, aquelas iguais as do João e Maria. Pois é, não havia nenhuma, nenhuminha mesmo. Mamãe-tigre simplesmente tinha evaporado no ar. E sem as migalhas ele sabia que seria difícil encontrá-la, porque desde muito pequeno já tinha notado – encafifado - que, diferente das outras mães, mamãe-tigre não deixava pegadas por onde passava.
E o curioso desta história é que não sabemos quem havia se perdido primeiro, se ele da mãe, se a mãe dele, ou se a mãe dela mesma. O fato é que agora ele era por si só. E na sombra que se projetava na parede da caverna, ele mais perecia um gatinho assustado!
Com a noite se alastrando pelo caminho, ele foi andando o tanto que suas perninhas agüentaram – e olha que isto era muito! Já estava exausto, com sede, saudades de casa, faminto... parou, se deitou num montinho de grama perto do rio. Àquela altura a lua prateava tudo a sua volta, transformando o rio em um espelho gigante. Ele se esticou pelo chão, se arrastou até ficar cara a cara com aquele rio-espelho.
E, de repente, se lembrou que era um tigre. (E isso é muito. )
F.L. - menina-que-quer-ser-escritora rogando pra que baixe um tigre hoje a noite quando eu for ler isto na aula.
7 comentários:
Lembra aquele pedaço do beijo roubado em que o mocinho diz que a mãe dele ensinou que quando ele se descobrisse perdido ele devia parar, que assim era mais fácil dos outros acharem ele.... daih a mocinha pergunta se essa tática dava certo... e ele responde que mais ou menos, porque uma vez ele se perdeu, parou, mas daih foi a mãe dele que se perdeu enqto o procurava...
Enfim, lembrei...
Adorei ler, depois de ter escutado ontem à noite! Acho que tem muitas imagens bonitas. Gostei dessa
"diferente das outras mães, mamãe-tigre não deixava pegadas por onde passava."
E sabe o "fofinho" que levantaram ontem? Então, lendo agora, pensei em macio. Nem sei se você tem a intenção de mudar...
Ah, não postei o meu, ainda quero trabalhar nele, mas tenho a impressão de que é um texto longo demais pra um blog. De qualquer jeito, andei postando umas outas coisas por lá, se puder passar e dar uma lidinha, vou adorar!
bjos!
Jus,
Mudei algumas coisas.
Já que literatura é construção! hehehe
É uma historia sobre abandono. Sobre se sentir pequeno e frágil. E daí, de repente, descobrir que é um tigre.
Será q deu pra entender melhor agora?
Julia, vc acha q agora tem um final com mais ação? Ou ainda falta ação?
por que "antiga pretensa escritora" e não "atual pretensa escritora"? ou apenas "pretensa escritora"....
bj!
Menina, esse texto É MUITO, para uma pretensa escritora. Obrigado pela reflexão. Abç,
20 dias sem nadica de nada!! Você tá mto devagar por aqui!!
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