terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Carta pra vc, Vô.

Você mal deve ter chegado aí onde vc tem que chegar, e eu já estou com saudades. Saudades assim, dessas que parecem pop up de site chato, sabe? Aquela janelinha que fica abrindo toda hora, sem nem vc se dar conta. Quando vê, tá lá ela!

Saudades de ler as manchetes das notícias esportivas só pra puxar assunto com vc, e vc realmente achar que eu sabia tudo de formula 1. Ou torcer pro "curintias" perder, só pra poder encher vc falando do palmeiras. E vc dizer que eu estou certo, que meu time jogou melhor mesmo (!!). Saudades de vc perguntar "mas onde vc arranjou este sapato?" e falar, na sequencia, sarcasticamente, "agora sim, tá pran-chan", ou "tá parecendo bota de soldado alemão".

Ou então da gente falar alguma coisa tensa, algo sobre política (bem cliche, nada muito profundo), e vc dizer "é charutinho!". De roubar seu pão na hora do almoço e vc dizer "deixa estar jacaré, a lagoa vai secar!". De te ver olhando por cima dos óculos.

Saudades dos apelidos que vc colocava nas coisas e nas pessoas. A padaria Mija na Pá (?) foi a melhor de todas!

Saudades de te ouvir falando na terceira pessoa, o vô isto, o vovô aquilo...

De te ouvir falando puuta-queo-pariu. De chegar na sua casa e pular no  quarto onde vc via tv, só pra te assustar um pouquinho. De vc sempre falar "já vai?" mesmo eu tendo passado o dia inteiro na sua casa, e daí dizer "então tá bom, filha". Tudo isto mesmo que na maioria das vezes, vc tenha até ficado vendo tv sozinho a maior parte do tempo - só bastava saber que a gente tava lá, que tava bom.

Saudades de te ouvir falando que a menina - eu - fala entre os dentes! Por isto vc nao me ouvia, não porque vc era surdo e não ouvia ninguém falar - mas sempre ouvia quando a vó falava... vai entender né?!

Saudades da casa cheia aos domingos. Ou só comigo e com meu marido. Ou só com vcs 2 e eu aqui pensando que precisava ver mais vocês, mas que hoje não dava porque...

Saudades de te dar broncas pq vc comeu não sei o que, e que eu ia contar para o Dr. Pedro e vc rir de mim, levantar os ombros, como quem diz, tô nem aí, filha (saudades deste filha, que vc sempre me chamou). Saudades até do Dr. Pedro, q eu nem conheci, olha só! Saudades do braço cheio de manchinhas roxas e vc reclamar que "o vô tá cansado de tanto remédio!". 

Saudades do pouco cabelo nos cantos da cabeça, vaidosamente penteados, cortados, e "colados" com uma especie de brilhantina oleosa que eu acho que nunca mais vou ver por aí. E de vc ir cortar o cabelo (!!) no barbeiro só pra pegar revistas pra minha sala de espera.

Saudades antecipada da casa por onde eu corria e pulava três degraus de uma vez! Onde eu tomava meu café de mesa - ou da tarde, como a maioria das pessoas fala - onde eu brincava no quintal, curtia as plantas que a vó tanto gosta, comia as coisas que ela já faz imaginando que eu posso vir, quem sabe, a passar lá, vai saber?!, do azulejo (até meio feioso) amarelo do jardim, do banheiro azul calcinha - com a pia no mesmo tom...

Saudades. Saudades. Saudades tantas. Dessas que só as grandes pessoas, que deixam grandes marcas, são capazes de produzir dentro da gente!

Amo vc.

Um comentário:

Jú Pacheco disse...

Lindinho!
e vâmo no MASP ô!