No caminho para conversar com ela, tinha um boteco daqueles bem pé sujo. Acho que nem era um boteco, era uma padaria mequetrefe de esquina. E enquanto eu esperava no farol, pensando sobre todas as coisas que diria a ela quando a encontrasse, tinha um cara sentado numa mesinha na calçada. A mesa era de metal, daquelas com logotipo de cerveja, já desbotado. Devia ser por volta da hora do almoço da segunda feira, e ele estava ali, sentado sozinho. Mesinha na calçada. Algum sol. E ele ali, com um pocket book na mão, daqueles puídos de tanto ter sido relido, ou então recem saído de algum sebo de pinheiros. Em cima da mesa um copo e uma garrafinha de guaraná.
E ele ali. Cabelo liso, loiro acinzentado, charmosamente desalinhado. Desgrenhado. Não deve ter sido lavado hoje. Magricelo. Roupo rota, ligeiramente arrumado numa calça caqui e uma camisa chadrez, talvez. Casaco de moletom verde surrado, pendurado na cadeira. Mto calor. E claro, os óculos de aro de metal fininho. Não era exatamente um homem atraente. Tirando toda a cena, talvez passasse sem brilho algum e eu nem notaria a sua existência. Mas naquele momento, ali, com aquele livro e os óculos, era absolutamente delicioso. Por um segundo, enquanto o farol não abria, me entreguei a ele. Pensei que devia ser tão culto, tão interessante. Será sobre o que o livro que ele lia? Pensei que deveria ser algo em inglês, não sei porque, talvez por ver poucos pocket books nacionais... Ali, naquela calçada, ele parecia um pouco solitário. Algo romantico, mas o romantico do romantismo, aquela coisa mais mal do século mesmo, de um certo culto as intesidades depremidas. Talvez fosse apenas um pouco esquisito, ou tivesse uma depressão sutil [um dia eu preciso descobrir que link é este que eu faço entre ser deprimido-ser interessante, pq este papo que homem com uma dor é mais elegante só me dá trabalho]. Mas nada apavorante. E talvez não fosse nada disto e ele estivesse escrevendo ele mesmo seu próprio livro e decidiu sair para tomar um ar antes de recomeçar, e para espairecer desceu do seu escritório com um livro do Sidney Sheldon pra refrescar.
Quando o farol abriu e eu tive que andar com o carro, quase resisti. Queria ir ficar mais um pouco com ele ali. Mas a verdade é que ele continuou lá como se nem fosse segunda feira, 13h30 da tarde. Continuou lá como se lá fosse realmente o seu lugar de parada, chegada e partida. Seu único lugar possível. Sua única possibilidade. Como se daquela padaria de esquina com mesinhas mequetrefes na calçada ele jamais tivesse saído.
F.L. - who are you?
Um comentário:
PS. where are YOU?
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