Ele ficou olhando o bonde passar. Entretido. Seduzido. Capturado. Por um bonde que ele mesmo havia inventado, porque nos dias de hoje nem bonde existe mais. Mas ele ficou ali, olhando o bonde passar. O bonde que ele foi criando, cultivando, por anos a fio. E este bonde de tempos em tempos passa na frente dos olhos dele e ele se perde, fica olhando o bonde. Ela fica atrás do bonde, começa quase a fazer parte da paisagem. Ela vai sumindo, devagarzinho. Vai sumindo assim, sem pretensão. Chama uma vez. Faz uma gracinha. Mas ele continua lá, olhando o bonde. Fica lá. Berra com o bonde, briga com o bonde, trepa com o bonde. E ela tenta gritar por ele, mas ele nada. Tá lá, olhando o bonde passar. Enquanto ele olha o bonde ela se cansa. Senta um tiquinho. Cansada. Chama, chama... mas ele só consegue ve-la quando passa uma janelinha do bonde. E mesmo assim, acha que ela esta dentro do bonde! Aí que se enraivece mais, quer mata-la e fica brigando com uma ela que ele criou e, de pronto, já jogou lá dentro do bonde. Ela fica urrando, tentando dizer que aquela ali não é ela, que ela esta ali, na sua frente! Mas nao adianta, ele esta capturado pelo bonde e só o bonde é o que vê pela frente.
Ele ficou olhando o bonde.
E ela se foi.
F. L. - as vezes é melhor perder o bonde...
Um comentário:
Adorei! Adoro metáforas! Me identifiquei muito com isso heim? Às vezes vejo bondes tbm :(
As vezes não vemos mesmo, fantasiamos demais e acabamos perdendo o que é real, em troca de algo... Que nem existe, ou melhor, foi inventado!
É verdade isso tudo aí!
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