Maria dos Prazeres era uma portuguesa gorda, solteirona, que vendia bolinhos de bacalhau nos finais de semana na esquina da rua Quatorze de Novembro. Depois que a mãezinha tinha falecido de tifo, Maria morava sozinha. Na casa dos fundos vivia Getúlia, uma italiana roceira, que lavava pra fora, e que em troca do aluguel arrumava a casa e cuidava das roupas da dona Maria
A portuguesa jamais saia de casa sem roupa de baixo, combinação, sutien, saiote, meia de seda sete oitavos, saia e blusa fechada até o cangote. Um tarado poderia abordá-la no bonde, aijisus! Mantinha os cabelos sempre presos num coque, com redinha cor marrom. E não conhecia blush nem essas pinturas de mulher da vida.
Certa manhã Getulia avisou que as roupas de baixo da patroa estavam precisando trocar de elástico. Numa dessas, a senhora acaba perdendo as calcinhas no caminho! Maria fez o nome-do-pai-do-filho-e-do-espírito-santo-amém três vezes depois de ouvir isso, repreendendo a roceira que lhe falava aquelas obscenidades. Lembrou a Getulia que nem o doutor a tinha visto sem suas calcinhas, oras! Bateu a porta com força e como era quinta feira, saiu para comprar batatas para seus bolinhos.
Parou na esquina da Augusta para cruzar a rua. E foi ali que sentiu um vento por dentro de sua saia que lhe congelou os olhos. Passou a mão pela cintura. A calcinha já estava lá pelo meio das canelas. Tinha andando, roçando uma coxa gorda na outra, e nem notou que a calcinha ia descendo, assim, pacientemente, até aterrizar sobre os seus sapatos beges. A esta altura, já tinha feito 34 vezes o nome-do-pai, e calculava quantas vezes rezaria o terço para Nossa Senhora de Fátima quando chegasse em casa. Olhou para os lados, ninguém a vista, então sem muito jeito, levantou um pouquinho uma perna, depois a outra, e deixou a calcinha ali, no meio fio. Torcendo para o farol fechar e ela poder sair dali, como se aquilo lá não fosse dela.
Acontece que Maria ignorou a presença de um rapaz de chapéu do lado bem atrás dela. Ele também aguardava o sinal verde. O rapaz se curvou, pegou aquela calcinha abandonada na sarjeta, colocou um rizinho por baixo dos bigodes, deu um passo a frente, tocou a cintura da senhora cheia de carnes, e com a respiração quase no cangote da moça, perguntou, desculpando-se pelo inconveniente de não saber o nome da bela dama, se por acaso aquela roupinha de baixo era dela.
Maria não tinha passado blush, mas as bochechas pegaram fogo naquela hora. A mão do rapaz em sua cintura ia lhe dando uns caloires, aijisus! O meinho das coxas ficou molhado. Corou mais. Esquecendo-se de Maria, das calcinhas e do nome-do-pai, virou para trás e disse ao homem de chapéu do lado: Podes me chamar de Prazeres.
*texto elaborado para oficina de Criação Literária com o professor Marcelino Freire*
Fe Lopes
5 comentários:
Muito bom Fe!!! Amei rsrsr Beijocas, Dri
Fê...
Tenho um blog também =)) É bem bobo e simples... mas só pra divulgar né!!
uhuuul!!
Maria Dos Prazeres arrasa! Fernanda Lopes arrasa MUIIITO!
Beijos
:)
Heheh, que meiga, ela. A Prazeres.
ADOREI!
rs...
ai, já quero, faz uma maria lésbica?
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