domingo, 6 de junho de 2010

Mais três lágrimas e um oceano de coisas.

Era só uma avenida, mas pareceu um oceano. Enorme, inteiro, separando dois continentes. Aqueles mesmos, que na era sei lá qual, tinham tido suas placas tectonicas separadas. Assim, com dor e tudo o mais. Agora um deles regressa para o lado de lá. Vem com uma coragem imensa e algumas tantas rachaduras. E dor e tudo o mais.
Parecia um oceano, mas era mesmo só uma avenida. A avenida que seleva a coragem de ousar querer descobrir para onde os olhares querem ir - e não só para onde são levados - a avenida que um dia separou a infância da vida adulta, que agora materializava os sonhos desfeitos - dos nossos planos é q tenho mais saudades. Essas e tantas outras coisas em apenas um cruzamento.
Andou bem lenta pelo caminho. Parou em todos os farois, ouvindo uma das músicas da trilha do filme Alta Fidelidade - lembrou que gosta muito de trilhas sonoras de filmes. A música falava de uma garota que caiu de amores por alguém, mas que não deu certo. Ela esperou ele escrever uma música pra ela, mas ele não escreveu nunca, e daí ela se foi. E ao ouvir essa frase, enquanto cruzava a avenida, ela chorou uma lágrima. Duas ou três, talvez. Daquelas que escorrem doídas pelo rosto, e daí nem precisam ser muitas mesmo. Lágrimas ressentidas, corajosas e frágeis - mesmo que em se tratando de lágrimas, isso tudo pareça um grande paradoxo.
O farol abriu, os carros na faixa ao lado andaram, mas ela continuava ali, parada. Um minuto de silêncio, pelo mundo que desaguava naquele oceano agora. Um minuto imóvel. Si-lên-ci-o. Se tinham buzinado, se tinha xingado, ela nem viu. Estava ali, vestida de fim, chorando um oceano de coisas em apenas mais três lágrimas dignas dela, do oceano, da avenida, e dele - ainda viriam outras, ela sabia.
De súbito acelerou o carro. E chegou daquele lado de lá.
Fê Lopes - o infinito sou eu.

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