Era só uma avenida, mas pareceu um oceano. Enorme, inteiro, separando dois continentes. Aqueles mesmos, que na era sei lá qual, tinham tido suas placas tectonicas separadas. Assim, com dor e tudo o mais. Agora um deles regressa para o lado de lá. Vem com uma coragem imensa e algumas tantas rachaduras. E dor e tudo o mais.
Parecia um oceano, mas era mesmo só uma avenida. A avenida que seleva a coragem de ousar querer descobrir para onde os olhares querem ir - e não só para onde são levados - a avenida que um dia separou a infância da vida adulta, que agora materializava os sonhos desfeitos - dos nossos planos é q tenho mais saudades. Essas e tantas outras coisas em apenas um cruzamento.
Andou bem lenta pelo caminho. Parou em todos os farois, ouvindo uma das músicas da trilha do filme Alta Fidelidade - lembrou que gosta muito de trilhas sonoras de filmes. A música falava de uma garota que caiu de amores por alguém, mas que não deu certo. Ela esperou ele escrever uma música pra ela, mas ele não escreveu nunca, e daí ela se foi. E ao ouvir essa frase, enquanto cruzava a avenida, ela chorou uma lágrima. Duas ou três, talvez. Daquelas que escorrem doídas pelo rosto, e daí nem precisam ser muitas mesmo. Lágrimas ressentidas, corajosas e frágeis - mesmo que em se tratando de lágrimas, isso tudo pareça um grande paradoxo.
O farol abriu, os carros na faixa ao lado andaram, mas ela continuava ali, parada. Um minuto de silêncio, pelo mundo que desaguava naquele oceano agora. Um minuto imóvel. Si-lên-ci-o. Se tinham buzinado, se tinha xingado, ela nem viu. Estava ali, vestida de fim, chorando um oceano de coisas em apenas mais três lágrimas dignas dela, do oceano, da avenida, e dele - ainda viriam outras, ela sabia.
De súbito acelerou o carro. E chegou daquele lado de lá.
Fê Lopes - o infinito sou eu.
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