Tem alguns dias que eu adoro o que eu faco. Digo, ser psicologa. Adoro me produzir para vir ao consultorio e ouvir mais uma historia. E pensar que, singularmente, estou fazendo parte dela.
Hoje foi um dia mais ou menos assim. Sai de casa no meu tradicional bode de acordar cedo, desgostosa, e com aquela preguica da volta das ferias, quando o corpo teima em nao querer retornar. Pois bem, cheguei ao consultorio com muito sono, e fiquei lendo uma revista de bobagens, esperando minha paciente chegar. Ela chegou, com sua roupa que se mimetiza com a minha sala e tivemos uma sessao tao bonita, tao bonita... falando sobre caminhos proprios, e a dificuldade de achar o proprio caminho, considerando a influencia de sua historia, mas nao se colando a ela.
Faz um tempo muito que venho flertando com a ideia de abandonar a psicologia. As vezes e pelo retorno financeiro, e porque quero ser independete economicamente - e nao vislumbro esta possibilidade psicologando. Outras porque nao gosto de trabalhar sozinha e o consultorio e muito solitario - ao mesmo tempo, me recuso a trabalhar em qualquer que me obrigue a estar la das 8-18, de segunda a sexta. E outras porque to de saco cheio mesmo.
E tambem porque sinto que nao posso ser duas. Psicologa e Fotografa. Ter 2 identidades. Tenho que escolher.
Quando reflito sobre isto - e tenho feito isto ate ficar exausta - chego a conclusao que tem uma coisa que me definiria profissionalmente: sou uma historiadora, biografa, museologa! E, isto mesmo! Meu trabalho e ouvir historias, registrar historias, testemunhar historias, contar historias, criar historias - nada disto de forma neutra, sempre pelo angulo da minha propria historia. Esta e a linha que liga tudo. Minha verdadeira e unica paixao: a historia mitica do homem comum.
E como ja diria o Caligaris, meu idolo, se a pessoa vier ao seu consultorio e descobrir que a historia dela vale a pena ser contada e ouvida, isto ja e uma puta analise.
Eu nao sou psicologa/psicanalista. Nao sou fotografa. Nem escritora. Sou historiadora - no sentido verdadeiro da palavra.
F. - re-encontrando a minha vocacao.
"Nós acreditávamos – e acreditamos – que a memória social, construída democraticamente, poderia contribuir para criar diferentes perspectivas da nossa sociedade. Uma história de vida é, sem dúvida, uma forma poderosa de entender uma pessoa. Mais do que isso, conhecer – por meio da escuta ou da leitura – um grupo de histórias de vida é uma maneira incrível de expandir nossa visão do mundo, pois elas são peças de informação únicas, que nos mostram como as diferentes pessoas criam suas próprias realidades. " http://www.museudapessoa.net/oquee/oque_nossahistoria.shtml
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