segunda-feira, 13 de abril de 2009

Princesa Olhos D´água

"Leve na lembrança
A singela melodia que eu fiz
Pra ti, ó bem amada
Princesa, olhos d'água
Menina da lua
Quero te ver clara
Clareando a noite intensa deste amor
O céu é teu sorriso
No branco do teu rosto
A irradiar ternura
Quero que desprendas
De qualquer temor que sintas
Tens o teu escudoO teu tear
Tens na mão, querida
A semente
De uma flor que inspira um beijo ardente
Um convite para amar"
Menina Da Lua/ Maria RitaComposição: Renato Mota



Princesa Olhos D´agua chega com seus olhos cristalinos, eternamente vermelhos e mareados. Olhos mareados de quem contem um mar de dores a serem contadas. Mareados de quem naufragou em seus quereres e se apoia em bóias para não afundar. Mareados de quem tem pavor de maremoto, e ao mesmo tempo o deseja, quem sabe as coisas não se movem?

Conta do amor, que era pouco e há muito se acabou. Era pouco, mas era la uma bela boiá a mantê-la longe do afogamento. Era pouco mesmo? Pouco ou não, não importa. Importa que era. Separados há muitos anos, Princesa se assustou com o pedido de divorcio do marido. Agora é pra valer, parece. E parece que ele seguiu, em busca dos seus desejos por aí. E a Princesa?

Princesa se re-sente - e ainda há muito o que re-sentir - e cola-se no menino, nadando abraçada a ele, como se fosse sua (única) boia salva-vidas. E e de fato, menino se torna sua boia - agora menino também ganhou uma função. Ela emerge, enquanto ele vai indo para um oceano de loucura sem fim. Loucura triste, triste loucura a dele.

Não, não fique com raiva da Princesa Olhos D´água!! Ela não faz por mal. Ela nem sabe que faz. Era a morte, e ela escolheu a vida.

Nesta navegação, Princesa e Menino-Boia andam tão coladas que as vezes, ao longe, não distingo quem é quem. E por tantos momentos vou me perguntando de quem eu cuido, hein? - ah, sim, Princesa é minha paciente - E me embaraço nesta rede, sou pescada por ela, quantas e quantas vezes. É preciso um farol, que me lembre qual a direção da navegação.

Não há carta, ou mapas a seguir. E seguimos aí, pelos caminhos do mar. As vezes o mar nos trás o passado, as vezes nos trás o futuro das coisas que não se foi, não se fez, não... as vezes, mais gentil, o mar nos convida a ver o futuro das coisas que podem ser - por que não?

Em nosso último encontro Princesa Olhos D´água derramou um tanto de mar. E se fez chuva em seus olhos, desabotoados, escorrendo dores e lembranças daquelas que queimam conforme se deixam passar pela pele, sabe? Pois bem, escorreu, choveu, com muito custo, muita dor. E eu, que há tempos vinha pensando que havia tanto a chorar por estes olhos sempre chorosos, tive que pedir que ela deixasse chorar! Princesa deixe chorar, que teus olhos já são água há tempos. E eu que, não entendia antes porque não chorar, percebi que quando a lágrima escorre, ela deixa um rastro na pele como tatuagem, e daí não dá para esconder, nem se esconder.

Quando chora Princesa Olhos D´água solta a Boia. Afunda um tiquinho, é verdade, mas pode emergir sem a boia depois. Quando solta a Boia, ela é só Princesa. E a Boia pode, então, ser so Menino - mesmo que por um instante um.

Quando Princesa Olhos D´água saiu pensei que, quem sabe agora ela e o seu desejo de viver outros papéis, possa então ensaiar outros jeitos de habitar seus olhos. Ou talvez sejam os olhos que possam olhar para outros jeitos, de outros jeitos. Vai saber.
Fe Lopes - seguindo junto na navegação.

Um comentário:

disse...

Adorei! É bom ver que vc não perdeu a mão! Beijos! Sempre estarei aqui!