Janaina cheirou mais uma carreira de cocaina e saiu pela rua. O nariz ardia. Saiu pela rua, de nariz vermelho, entorpecida. Enlouquecida. Maniaca. Andava apressada, com sua bota preta surrada, descosturada na frente. Ninguem ao seu lado. Andava pelo meio fio. Da rua e da vida. Flertando o tempo inteiro com a desrazao e desprezo pela vida, a sua, a dos outros e tudo mais. Janaina ja nao sabia mais existir sem este flerte terrivelmente sedutor com tudo aquilo que compunha a sarjeta da existência humana. Acha as sarjetas interessantissimas. Cheias de bohemia, intelectualidade, profundidade, entre as ratazanas, as prostitutas baratas, as baratas, os motéis pulguentos e os mal cheiros do centro sujo de uma cidade de São Paulo que parece, a seus olhos, nunca tomar banho. Pedia mais um copo de whisky e discutia sobre Collete Soller na mesa suja do bar sujo em que parou para comprar mais um maco de seu cigarro imundo. Falava ao vento e vento lhe virava as costas.
Janaina era muito intensa. E toda aquela intensidade produzia o único prazer verdadeiro que era este flerte, num corpo que só sabia gozar quando diante da intensidade profunda e profana que, quando não experimentada pela própria vida e nos encontros com seus pares, ela buscava na cocaína e em outras tantas drogas e mortes que ela se entupia por aí. Mortes soa meio démodé, pesado, ate mesmo acusativo. Na verdade, Janaina precisava do estupor da intesidade insana para se manter sã. E daí sim flertava com a morte. A intesidade é sempre isto. Um flerte. De criação e morte. Lado a lado. Um escorregão, tudo pode mudar. E o prazer a criação acabarem no vale melancólico, deprimido do mortífero das intesidades vazias e absolutamente sem graça. [E também, deve-se dizer, Janaina era apaixonada por Goethe e tudo mais que compõem os autores romatincos. Janaina cultivava carinhosamente a sua depressão literária autoral, inspirada descaradamente na admiração escancarada pelo mal do século.]
Quando tudo lhe parecia apático, se refugiava na apatia branca de uma carreira apática de cocaína. E por alguns instantes, se sentia inserida num contexto falso de intensidades medíocres. E isto era suficiente para lhe fazer gozar mais um pouco. E mais um pouco. E quando tudo lhe parecia apático, não ousava pensar que apática poderia ser a ela e a construção que vem fazendo da sua vida. Não ousava pensar. Não ousava.
Pensava somente em seus grandes ídolos, todos incríveis. Anti-herois, subversivos, revolucionários. E ela ali. Sem nada a conquistar. Numa vida de repetições de teorias e teoremas que, que piada, ninguém sabia mais ao certo o que significavam. Nem ela. Quem foi Collete Soller? Sei la, ela também não sabe. Pouco importa. O nome soa delicioso junto a um copo de whisky. Desliza vertiginoso pela boca dela. Sai, luxuriosamente, por entre os dentes e a língua. E ela goza, devagar. Sem pressa. Aproveitando cada instante em que as palavras permanecem dentro de si mesma, para, de repente, sair e ganhar o mundo.
F.L. - what more?
3 comentários:
hahaha!!!! Brigadãoo!!! Pois é... Mas aqui onde moro (Santos) Os barbudos não têm vez :(
Mas sigo aqui, só e são.
Em relação às unhas vermelhas.... São mais sexys mesmo... Concordo.
Ótimo FDS, mais uma vez obrigado pela visita.
bjs!!
Caramba! Fiquei com pena dela! Acho que ela precisa de uma "mãozinha". Espero que ela termine bem esta estória.
já fui janaína sem padê. é para quem gosta de buscar o preenchimento sem se dar o direito a ele de fato. passei dessa fase, me rendi à yoga, rs.
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