sexta-feira, 6 de março de 2009

Fotofilosofando

Fundamentalmente a fotografia trata do olhar. Um cliche dizer isto, eu sei. Mas venho pensando muito sobre isto...
Meu tema, em qualquer foto que eu venha a fazer, eh o olhar. Pra onde meu olhar me leva? E eu, vou? Tenho coragem de ir? Me fascina e me enche de questoes a ideia de que eu assito a uma cena junto com vc, mas escolho nela um recorte diferente do seu. Mesmo que estejamos no mesmo angulo, sempre, invariavelmente, nossas fotos sao diferentes.
A foto, assim como um quadro, eh uma expressao do artista. Eh um retrato do fotografo sobre um objeto, uma cena. E talvez pela foto eu consiga ver ate mais do fotografo, do que do proprio fotografado. Por que eu digo isto? Pq aquilo pelo qual meu olhar eh capturado eh uma expressao de quem eu sou, das coisas que me compoem, minha historia, meu momento de vida. O registro jamais eh ingenuo, esta sempre atravessada pelo outro. Na realidade, penso que eh uma triangulacao entre a cena, a camera - que filtra a cena - e o fotografo. Nao eh possivel fazer um trabalho de fotografia isento de vc mesmo. Eh necessario, antes de tudo, a coragem para se expor atraves de uma cena que congela a todos.
Eh aqui que vejo a intersseccao com a psicologia. A interpretacao na clinica eh sempre uma acao que difere de analista para analista. E podem me criticar, mas a escuta nunca eh neutra. Cada um lerara a historia de um jeito diferente, mesmo que a pedra fundamental seja comum. Assim como na fotografia, quando estou em um casamento eu sei que a alianca deve ser registrada. Eu vou registrar. Mas como vou fazer isto eh a minha marca pessoal. Mesmo que o casal, ao ver a foto, nao detecte. Mas ela esta la. Eu sei. Ate mesmo quando nao vejo. Eu sei que eu estou la.
Entao sempre que faco um clique, ele se insere na minha pergunta fundamental: pra onde meu olhar me leva? Pra onde meu desejo me leva? Pq me leva pra este lugar ? E eu, vou e banco os riscos? Ou fujo? Ou finjo que nao vi? Na fotografia eu sinto que eh impossivel se furtar ao desejo. Ele simplismente me captura e me leva. Se ele ira se traduzir em algo belo eh outra historia. Mas ele me captura, me toma, nao me da chance de pensar se eh possivel ou nao. Quando vi, ja cliquei. Meu olhar nao tem o tempo do meu superego. Ele vive no tempo e vai. Pronto, um clique. E dai, se vou me deter sobre aquilo que registrei eh algo a posteriori.
E eu tenho me detido muito sobre isto. E descobri que meus cliques sao fechados demais, nao respiram, como disse um professor. Eu achava que era um problemao. Mas dai assistindo ao filme Um Beijo Roubado - lindo! - entendi que o professor estava certo, meu olhar nao respira. Mas ele nao entendeu que meu olhar nao respira em ambientes abertos, pq minha paixao sao os planos fechados, que quase entram dentro do fotografado. E, hj percebo que meus gostos todos caminham por ai: gosto de filmes de cenas fechadas, historias de casal, com poucos personagens. Nada aberto, cheio de gente, personagens que entram e saem. Nao gosto. Nao quero apreender o mundo todo de uma vez, mas o mundo que existe nos teus olhos, assim, aos poucos. Pq meu desejo, mais secreto e declarado, eh te olhar e pensar pra onde seu olhar te leva? E eternizar este pequeno fragmento de vc, que me captura e me faz querer saber se vc... vc vai pra onde seu olhar te leva?
F.L. - I will be the knife of my life.

Um comentário:

Jú Pacheco disse...

Oi, fedida!
Saudade!!
Acho foda essa sua reflexão sobre o desejo do nosso olhar, para onde ele leva e seu a gente vai!